quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

No dia 13 de dezembro estivemos reunidos em Nova Contagem para um bonito encontro. Tivemos oportunidade de ouvir as partilhas missionárias de Lourdes, leiga em Moçambique, irmã Elvira - religiosa moçambicana aqui no Brasil; Rose, leiga atuante na Causa Indígena; Everaldo que se ordenará no próximo final de semana. O momento de formação com Pe Jorge, a leitura orante conduzida pelo Alejo, muita música, alegria, emoção e partilha. Podemos dizer que muitos são os motivos de gratidão a Deus, pela sua ação em nossas vidas e na ação missionária da Igreja.
Neste ano reunimos como grande família missionária e juntos construimos um dia de reflexão, oração, partilhas da Missão,... Foi um momento de encontro, festa, reunidos com familiares, amigos, colaboradores,... todos aqueles que tem a Missão no coração! Foi um dia dedicado a reforçar nossos laços de amizade e o compromisso e espiritualidade missionária comboniana.
Concluimos este dia com a celebração da Missa de Ação de Graças e o Envio Paroquial da Vanessa e do Everaldo para a África.
Que Deus nos abençoe e São Daniel Comboni nos inspire para que possamos crescer sempre mais na consciência de sermos discípulos missionários de Jesus, colaboradores no Seu projeto de Salvação para a Humanidade toda.
Abraços fraternos,

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

VOCAÇÃO MISSIONÁRIA



Estou em preparação para partir em janeiro de 2010, rumo à cidade de Maputo em Moçambique-África. Agradeço a Deus por essa caminhada de convivência e experiência missionária na casa formativa LMC aqui no Ipê Amarelo. Encontro-me realizada na minha vocação missionária, não consigo ficar parada diante do chamado de Deus, que é para todos nós batizados. Demorei a responder, fugi..., mas agora estou aqui com toda a minha fragilidade e pequenez abandonando-me e confiando no Deus da Vida.
Por que ir tão longe? A situação da África inquieta o meu coração. Quero conviver com o povo, aprender, partilhar... Como missionária, desejo ir além da minha casa, da minha paróquia, do meu país, da minha cultura, da minha visão de mundo... partir além fronteiras como Daniel Comboni e o testemunho de alguém que abandonou a sua vida nas mãos de Deus para ajudar o povo africano a “Salvar a África por meio da própria África”. E também Nossa Senhora Aparecida, nossa Mãe! Eu me sinto acompahada.
Missão não é algo solitário, é comunitário. A missão é na comunidade. Eu poderia ir fazer um intercâmbio e pronto. Meu desejo, porem é ir em nome da Igreja, enviada pela comunidade eclesial. Eu quero conviver com o povo, como leiga, como missionária. Abrir o meu coração para esta experiência de Deus em minha vida no encontro com o irmão.
Como uma adolescente estou anciosa, em festa (apesar dos medos) preparando-me para partir. Agradeço a Deus pela minha família que está me ajudando nesse tempo. Minha mãe, exemplo de missionária, que me ensinou a ver Deus presente no outro, nas situações do dia-a-dia, na doação. Nestes dias faço mais uma etapa do processo de formação missionária ad gentes e participo do curso no CCM em Brasília. Comboni queria missionários santos e capazes!
Aproveito para pedir a oração e a ajuda na concretização desta caminhada. “A proposta de Jesus é que passemos de um amor vivido na reciprocidade e na normalidade para um amor vivido na radicalidade e na gratuidade”.
Na graça!!!
TEstemunho Missionário de Vanessa Pereira de Carvalho - Leiga Missionária Comboniana

Fé, Vida e Dignidade!



Nestes últimos meses dois acontecimentos que vivemos junto ao povo indígena Arara em Rondônia, nos tocaram profundamente. O primeiro foi a realização do Encontro entre os pajés Arara que contou com dois meses de preparação.A comunidade se organizou para pesca e a caça; convidaram os parentes da aldeia Itârap; prepararam muita “macaloba” e comidas tradicionais, fizeram as pinturas, organizaram a aldeia para receber os convidados. Tudo num clima de muita alegria, expectativas e respeito.
“...o sagrado caminha lado a lado na luta pelo Direito e a Justiça”.
Rose.Quanto a nossa presença, sabíamos que não poderíamos participar de todos os rituais, apenas dos momentos em que eles nos convidassem, no entanto, o mais importante foi viver os momentos de união espiritual, na certeza de que Deus esta presente no meio do seu Povo sempre!
Assim relatou Carlos Mulungu: “O encontro de pajés, além de ser o momento da gente fazer nossos rituais, ele também é o momento em que nós reunidos, discutimos os nossos direitos”.
Outro momento importante foi a elaboração pela comunidade de um documento para ser encaminhado para o Ministério Público denunciando a precariedade no atendimento a saúde. A situação de uma mulher doente na aldeia era tão grave que organizaram-se e de caminhão foram até a Funasa e o Ministério Público.
“Na Funasa todos ficaram assustados, mais fomos logo dizendo: não viemos para brigar, viemos para reivindicar nosso Direito de ser tratado com respeito! E também não viemos aqui para ouvir justificativas, viemos para exigir mais respeito no tratamento com nossos parentes!“
Depois de muita pressão a doente foi encaminhada para um tratamento especializado que precisava!
Para nós que acompanhamos esta caminhada do povo, fica forte que o sagrado caminha lado a lado na luta pelo Direito e a justiça, que a ação libertadora anima, alimenta, fortalece a fé e vice versa. Sinto forte que: ”A fé fortalece as obras, sem as obras a fé esta completamente morta.” (Tiago 2,14-16)

Testemunho Missionário de Rose Mary Candido - Leiga Missionária Comboniana

Ouro Preto do Oeste/RO – 2009.

O sorriso de uma criança...

porta de entrada para o Coração de Deus!








Querid@s Amig@s,



Com alegria escrevo de Maputo – Moçambique, onde estou desde janeiro de 2008. Aqui dedico-me com muito empenho ao trabalho de promoção da Mulher. As aulas de costura são também tempo de encontrar, ouvir, partilhar a vida, a luta... Nestes dias deparei-me com a vida de uma vovó que sustenta 5 netos que perderam seus pais. Luta com dificuldades, carregando lenha. Pede ajuda!... E fiquei rezando em meu coração pelas muitas mulheres que têm o mesmo destino…
No segundo semestre começamos 3 novas turmas de costura: manhã, tarde e noite. A sala foi reformada, está mais arejada e com o forro o calor que é muito grande parece estar mais suportável. A alegria vista nos rostos e olhares onde, nas primeiras aulas aprendem a fazer os moldes é compensador. Depois passam ao trabalho com as máquinas, iniciando com bolsas de retalhos.
Tivemos a Assembléia anual dos Leigos Missionários Combonianos em Carapira (norte de Moçambique) oportunidade que aproveitei para visitar a Lourdes (LMC brasileira) e o Carlos (LMC português) que trabalham na Escola Industrial de Carapira. Foi uma grande festa. Outro momento forte e necessário foi o aquietar-me por alguns dias na cidade da Beira, juntamente com a Família Comboniana, alguns padres, irmãos e irmãs para um Retiro. Foram dias de silêncio, oração, renovação do compromisso da vida doada e partilhada. Lá tive a alegria de encontrar o nosso querido amigo padre Chico Colombi que trabalhou na Paróquia de Santa Amélia em Curitiba por longos anos.
Fico por aqui e oferto a cada um de vocês a alegria e o sorriso das crianças, um presente de Deus!



Com amizade, Gui.
Testemunho Missionário de Guilherma Vicenti - Leiga Missionária Comboniana

Dezembro Missionário



“Enviados para anunciar a Boa Nova”

Neste mês de dezembro como presença missionária em Nova Contagem nos preparamos para momentos importantes de animação e compromisso com a Igreja do Brasil enviada além fronteiras.
No dia 13 de dezembro nos reuniremos para refletir e partilhar como família missionária comboniana o tema “Enviados para anunciar a Boa Nova” (Lc 4, 18), e o eco desta certeza em nossa vida, nas partilhas das experiências missionárias. Faremos como Paróquia de São Domingos o envio de Vanessa para o Moçambique e de Everaldo para a República Centro africana. Expressão visível de amor e doação. E no dia 19 de dezembro teremos a Ordenação Sacerdotal do Everaldo. São ocasiões que nos ajudam a alargar nossos corações!
Neste tempo de Advento, na espera do novo que nasce, pedimos a graça de sermos também nós geradores de Vida, apaixonados pela Humanidade, a exemplo de São Daniel Comboni que doou a sua vida por amor à África. A missão nos interpela e pede uma resposta corajosa. Continuemos a alargar horizontes e dar passos missionários além das nossas fronteiras!

Leigos Missionários Combonianos

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Grupo da Missão Ad gentes

Domingo, dia 15 de novembro, teve início o segundo Curso Ad Gentes de 2009 promovido pelo Centro Cultural Missionário de Brasília. Participam 25 missionárias e missionárias entre presbíteros, religiosos e religiosas, leigos e leigas, que se preparam a serem enviados além-fronteiras em países como Moçambique, Angola, Timor Leste, Cuba, Haiti, Filipinas, Peru, Bolívia, México, Maláui, Reino Unido. Essa formação missionária tem como finalidade oferecer uma preparação intensiva e um acompanhamento, através do qual se procura ajudar a aprofundar as motivações pessoais, a própria compreensão da missão, a visão mundial dos desafios missionários, o processo de encontro com as outras culturas, os fundamentos bíblicos e teológicos da missão e a espiritualidade missionária. É um importante momento de reflexão e de estudo antes de partir para uma experiência tremenda e fascinante de tornar-se hóspedes na casa dos outros. O curso vai até 10 de dezembro e tem como tema o da Campanha Missionária desse ano: "Enviados a anunciar a Boa Nova a todas as nações". (fonte: CCM www.ccm.org.br)


Eis o grupo que se encontra em estudos no Centro Cultural Missionário em Brasília. São missionários e missionárias brasileiros que partirão em breve do Brasil para outros países.
A todos o nosso grande abraço,

Cristina

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Dia Nacional da Consciência Negra


Ainda é problemático o acesso à educação, ao mercado de trabalho, salários inferiores. Esse são alguns dos aspectos que ilustram a real situação dos negros e negras hoje no Brasil. Chamando a atenção para todas essas desigualdades sociais, milhares de pessoas celebram hoje, dio da morte do líder Zumbi dos Palmares, o Dia Nacional da Consciência Negra. É um dia de reinvindicação!


Quem foi Zumbi dos Palmares


Zumbi foi o principal líder do Quilombo de Palmares e símbolo da resistência contra a escravidão. Foi assassinado em 20 de novembro de 1695, após resistir a diversos ataques organizados contra Palmares, quilombo fundado no ano de 1597, na região da Serra da Barriga, atual estado de Alagoas. Logo após seu início, o ideal de liberdade e a competente organização do Quilombo dos Palmares fizeram com que o esse se tornasse uma verdadeira república. Inúmeras tentativas de devastar Palmares foram feitas, para destruir um território livre, símbolo da resistência ao regime escravista e da consciência negra. A expedição de Domingos Jorge Velho atacou e destruiu o Quilombo e assassinou Zumbi.

domingo, 15 de novembro de 2009

A formação é contínua



Inicia-se hoje no Centro Cultural Missionário em Brasilia o Curso de Missão Ad gentes que vai até o dia 10 de dezembro. O curso destina-se a todos os missionários brasileiros que partirão para a missão além fronteiras: padres, irmãos, irmãs, leigos e leigas. Participa deste curso nossa querida Vanessa que terá oportunidade de dar mais um passo em sua formação missionária como leiga; infelizmente são poucos os leigos e leigas que partem em Missão. Os desafios ainda são muitos e pouca é ainda a consciência missionária da nossa Igreja, principalmente para o envio além fronteiras. Precisamos acordar para esta realidade.

Assim, vamos acompanhá-la em nossas orações e pedir as luzes necessárias para que possa crescer ainda mais em seu amor pelos pequenos e a opção em partir para o Moçambique!
Um grande abraço,
Cristina

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Novo Superior Geral dos Combonianos


Padre ENRIQUE SÁNCHEZ GONZÁLEZ, novo Superior Geral dos Missionários CombonianosHoje, 21 de outubro, o Capítulo Geral dos Missionários Combonianos, reunido em Roma desde o início de setembro, após ter avaliado a situação da congregação em seus vários aspectos e ter invocado a luz do Espírito Santo e a intercessão de São Daniel Comboni, fundador da congregação, elegeu o novo Superior Geral, para um período de seis anos.É ele o padre Enrique Sánchez González.Ele nasceu na cidade de Sahuayo, no México e tem 51 anos de idade.Pediu e foi aceito na congregação em 1980. Ordenado sacerdote em 1984, dedicou seus primeiros anos de missionário no México. A seguir, foi destinado à Africa, trabalhando no Congo de 2000 a 2004. Desde 2005 liderava os combonianos que trabalham nos países da América Central. Os combonianos agradecem a Deus por esta escolha e rezam e convidam todos os amigos a rezar com ele e por ele, nessa tarefa de liderar a congregação com uma vontade cada vez mais lúcida e decidida de servir à Igreja Missionária.

sábado, 10 de outubro de 2009

10 de outubro – Dia dedicado a São Daniel Comboni...

Temos o convite de acolher hoje o exemplo de Daniel Comboni.

Como ele somos chamados a alargar nosso coração missionariamente:
- vamos subir nos “montes” que estão a nossa disposição e olhar além das nossas pequenas vilas, paróquias, problemas, realidades, interesses,...

- vamos nos manter atentos á realidade que nos cerca, curiosos e decididos a entender as causas e não somente atacar os sintomas;

- vamos nos motivar a aprender algumas palavras em outro idioma: quechua, árabe ou guarani,... e começar a pensar a partir de outros lugares e realidades;


- vamos reconhecer quem são os escravizados de hoje e tomar uma firme posição sobre o valor da Vida;

- vamos chamar para a roda de conversa, partilha, sonhos e luta os excluídos do mundo, da Igreja, das nossas vidas;

- vamos continuar acreditando no valor de cada pessoa, na Igreja Povo de Deus, no valor da mulher, dos leigos e leigas; tendo a firme certeza de nossa vocação missionária.

- vamos nos lembrar de percorrer o mundo, os espaços reais e virtuais, lembrando a todos: ricos e pobres, que não podemos nos fechar, há gente sofrendo, esquecida, vítima de uma partilha injusta dos bens. A vida em abundancia é para todos!





- Comboni ousou o novo e muitas foram as cruzes que enfrentou: quase perdeu a honra, a reputação, até o serviço missionário que tinha sido confiado por Deus. Ficou-nos assim a sua profecia, que revela onde estava a fonte de sua obra: “Não há nada de estável e duradouro a não ser em Cristo e na sua Cruz”.

Nós não sabemos qual será o nosso futuro. As provações serão a nossa companhia, como foram a tua, Comboni. Mas caminhamos, iluminados pela presença do Senhor Ressuscitado. A missão pertence-lhe. E a nossa obra, que é continuação da tua, é obra de Deus. Por isso viverá

Com carinho e amizade,
Ótima Celebração da vida!



Cristina

Festa de São Daniel Comboni – 2009

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Missão no Ipê Amarelo




Nesse mês completo oito meses de missão no Ipê, é uma formação para viver a missão na África. Percebo que a formação não é um tempo determinado, a formação é constante, no dia-a-dia, através do encontro com o outro, na escuta, no diálogo com meus amigos, com o povo, com minha família, com a Cristina. A minha formação é vivência comunitária, é dar o primeiro passo, sair da minha casa para viver em outra realidade, é arriscar com Deus.
Recebemos na nossa casa, o Jovem Damiano, que nos ensinou muito com sua simplicidade e com seu testemunho. Ele é um jovem italiano que participa de um grupo missionário na Itália, que evangeliza através da música. É bom descobrir que existem várias formas de anunciar a Palavra de Deus concretamente.
Eu já sou Pedagoga, mas ainda estou estudando, fazendo uma especialização. Está sendo muito difícil estudar nesse semestre, pois estou muito ansiosa com a viagem e não estou curtindo bem este momento por causa dos estudos. (É uma cruz, porém estou estudando para melhor servir futuramente na ÁFRICA... só na graça!)
Tivemos aqui em casa também a presença da Isabel, família Ramirez e Marcelo. Foi um final de semana muito especial para juntos vivenciarmos em família a missão, através da partilha, da alegria de estarmos juntos. O missionário não é só aquele que está na missão, mas é aquele que ama a missão e realiza sua missão no dia-a-dia.
Agora estou ajudando na pastoral da Crisma na Comunidade do Ipê, está sendo uma experiência muito boa, é sempre um dom poder ajudar na comunidade. A pastoral é uma desculpa para fortalecer a amizade com o povo, com os jovens.
Agora já tenho meu passaporte, está se aproximando a minha ida para Moçambique, então nesse tempo comecei a sentir “uma dor na barriga’’, ” minha ficha está caindo”. É por que aos poucos me vejo deixando o Brasil, minha família, meus amigos. Estou rezando e pedindo a Deus o Espírito Missionário de Comboni, que teve o desejo claro de servir a Deus no meio do povo africano. Que eu possa ir sem medo, sem receio, para realizar a vontade de Deus em minha vida, que de fato eu também desejo.




Na graça.



Vanessa LMC

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Missa de ação de graças

Sábado, dia 22 nos reumimos na Comunidade Nossa Senhora das Graças no bairro Regina em Belo Horizonte, para celebrar com Vanessa, sua família e amigos a sua formatura em Pedagogia com enfase em Ensino Religioso.
Foi um momento especial para agradecer a Deus a trajetória feita e continuar planejando os passos futuros, com seu envio em janeiro para Moçambique.

sábado, 15 de agosto de 2009

Pobreza no Mundo

Pesquisando sobre o tema da pobreza no mundo encontrei este artigo publicado na Revista "MUNDO e MISSÃO" e giostaria de partilhar com vocês. Temos que refletir e fazer ações mais conjuntas;

Pobres
É possível erradicar a pobreza do mundo?
Marcos Peixoto de Mello Gonçalves

É sim possível interromper o processo de produção da pobreza no mundo. Da pobreza material e da mediocridade espiritual. Segundo dados divulgados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD, bastaria 1% do rendimento mundial para cobrir todo o custo da erradicação da pobreza material do mundo. O aparente milagre levaria apenas duas décadas. O milagre verdadeiro, entretanto, é que isto depende de vontade política, fruto da elevação espiritual dos que estão no poder. E aí, sim, só com um milagre
A triste realidade
Entre 8 e 12 de abril passado, em Genebra, aconteceu o Fórum da Aliança Mundial das Cidades Contra a Pobreza - AMCCP -, criada juntamente no início da Década das Nações Unidas para a Erradicação da Pobreza (1997 a 2006).Pouco antes da abertura do Fórum, no dia 3 de abril, também em Genebra, o Programa das Nações para o Desenvolvimento divulgou dados sobre a pobreza no mundo, a fim de que os participantes, representantes de municípios de todo o globo, pudessem levá-los em conta nas suas discussões e programações. As conclusões do Fórum foram transmitidas aos dirigentes que participaram da sessão extraordinária da Assembléia Geral da ONU, em junho, ocasião em que são avaliados os progressos já realizados no combate a essa chaga.O verdadeiro milagre para acabar com a pobreza é existir vontade política para acabar com ela. E é aí que eu en-tro. Melhor entendido, você e eu, leitor amigo, começando por agüentar a leitura de muitos dados. Depois, memorizando alguns e divulgando-os ao máximo. Mas não é só. É preciso agir. O programa da ONU e o Fórum oferecem algumas sugestões. A criatividade individual e comunitária, certamente, encontrarão as formas mais adequadas em cada circunstância.A pobreza, de todo modo, é um problema, não é mesmo? Vamos, pois, começar pelos dados positivos. Quem sabe assim nós nos animamos a lutar com mais veemência. Onde estivermos. A partir da contingência pessoal de cada um. Com paixão e amor pela justiça!"Desde 1960, a taxa de mortalidade infantil nos países em vias de desenvolvimento foi reduzida em mais da metade. Os valores de má nutrição decaíram quase um terço. A proporção de crianças fora da escola primária diminuiu de mais da metade a menos de um quarto. Nos últimos 50 anos, a pobreza diminuiu mais rapidamente do que nos 500 anos precedentes. Alcançaram-se mais ganhos nos países em vias de desenvolvimento nos últimos 30 anos do que no mundo industrializado".Essas são as flores. Eu, como tenho certeza de que também ocorreu com você, caro leitor, animei-me bastante ao ler esses dados. Vamos agora aos espinhos, ao que ainda temos de superar: pobreza e desigualdades absurdas.
"A - A soma do Produto Interno Bruto - PIB dos 48 países menos desenvolvidos, com os seus 600 milhões de habitantes, não atinge a renda dos três bilionários mais ricos do mundo; os países menos desenvolvidos, com 10% da população mundial, têm 0,3% do comércio mundial, metade da cota que tinham duas décadas atrás.
B - Nos países em vias de desenvolvimento, mais de um bilhão de pessoas carecem de habitação adequada e estima-se que 100 milhões estejam sem abrigo; mais de 840 milhões de adultos são analfabetos e destes, 538 milhões são mulheres, praticamente dois terços dos analfabetos adultos; um quinto da população destes países não têm expectativa de vida além dos 40 anos de idade e meio milhão de mulheres morrem, anualmente, durante o parto, um índice 10 a 100 vezes mais elevado do que nos países industrializados; sobre as mulheres, saiba-se que elas e seus dependentes constituem 80% dos 18 milhões de refugiados em todo o mundo.
C - Nos países industrializados, mais de 100 milhões de pessoas vivem abaixo do nível de rendimento da pobreza; mais de cinco milhões não têm abrigo e 37 milhões são desempregados.
D - Quanto às crianças, 160 milhões são moderada ou severamente subnutridas e 110 milhões delas não recebem educação primária; ademais, cerca de dois milhões morreram na última década, em conseqüência de conflitos armados.
E - Cerca de 1 bilhão e 200 milhões não têm acesso a água potável e, a cada ano, sete milhões morrem de doenças contagiosas curáveis e parasitárias, tais como a malária, diarréia e tuberculose; quanto ao HIV, 95% das novas infecções ocorrem nos países em vias de desenvolvimento, sendo de 16.000 o número de novas infecções diárias.
F - Há 110 milhões de minas a detonar em 68 países.
G - A Europa do leste e os países da Comunidade dos Estados Independentes (CEI, ex-União Soviética) têm tido o maior depauperamento na última década, com 120 milhões de pessoas vivendo com menos de 4 dólares por dia, o que significa que estão abaixo da linha de limite da pobreza."
Quanto custa?
Quanto custaria eliminar estes problemas todos? Não sei responder. É possível, entretanto, formar uma idéia da possibilidade de erradicar-se a pobreza através de alguns comparativos.
Tais como:
"1 - O efetivo alívio da dívida dos 20 países mais pobres do mundo custaria 5,5 bilhões de dólares, o equivalente ao custo da construção da Euro Disney.
2 - O fornecimento de educação básica para todos custa menos do que se gasta com o consumo de sorvetes na Europa.
3 - O custo anual para obter acesso universal à água potável e saneamento em todos os países em desenvolvimento eqüivale, mais ou menos ao que a África sub-saariana gastou com defesa,8 bilhões de dólares.
4 - O custo anual para atingir a saúde básica e nutrição no mundo inteiro custaria mais ou menos o equivalente ao que a Ásia gastou com defesa, 15 bilhões de dólares.
5 - Os gastos em defesa global constituíram, em 1995, cerca de 800 bilhões de dólares."Destarte, todos nós sabemos que a melhor maneira de acabar com a pobreza é o trabalho remunerado. O que depende do investimento. Ocorre que, em razão de múltiplos fatores, "a América do Norte, a Europa e o Japão, juntamente com as oito províncias da China, recebem 90% do 'Investimento Direto Estrangeiro' - IDE. O resto do mundo, com mais de 70 por cento da população, recebe apenas 10%."O maior economista do século XX, o inglês John Maynard Keynes, explicou como os governos devem agir para garantir o pleno emprego. De sorte que todos eles sabem. Basta o governo gastar na construção de obras públicas. Ocorre, entretanto, que os capitalistas financeiros, aqueles que ganham lucros decorrentes da aplicação das suas poupanças em títulos financeiros que rendem juros, estão dando as cartas do jogo econômico mundial. E para eles, a estabilidade monetária é fundamental.É fácil de entender. Se houver inflação, os capitalistas financeiros, dentre os quais se incluem os rentistas, os investidores em títulos e os que especulam com a variação de preço das moedas, perdem para os empresários que produzem bens e serviços. Isto porque a inflação não exagerada propicia lucro ao empresário empregador em detrimento das rendas dos capitalistas financeiros. Por isso, para estes, a estabilidade da moeda, a sua variação mínima, com a inflação tendendo a zero, é essencial.
Os todo-poderosos
E hoje em dia, os capitalistas financeiros estão com todo o poder. Eles têm capacidade de se fazer obedecer. Estão conseguindo impor o seu interesse fundado na busca de lucros proporcionados pelos investimentos financeiros à política econômica dos países, sobretudo aos que se encontram em vias de desenvolvimento. Para isso contam com a conivência dos organismos internacionais de financiamento, especialmente do FMI, do Banco Mundial e dos bancos internacionais que emprestam dinheiro aos governos, quando estes seguem as receitas impostas pelo FMI.Mediante um discurso que endeusa a liberdade de mercado e advoga a minimização do Estado, os titulares dos capitais financeiros dominam as ações de política econômica e monetária dos governos. Defendem a plena liberdade de movimentação dos capitais entre os países, hoje possível em razão da tecnologia eletrônica da informação instantânea. Voam de um país a outro, beneficiando-se, inclusive, das diferenças de fuso horário. Enquanto um lado do planeta dorme, eles estão operando, através das bolsas de valores, do outro lado. E quando este adormece, através de 'clics' nos teclados dos computadores, voam para o lado que está acordando. Essa volatilidade de capitais é capaz de empobrecer povos inteiros, do dia para a noite, como se viu acontecer na década de 90, em muitos lugares.A principal recomendação destes senhores, então, quando pressentem qualquer ameaça de inflação, é subir as taxas de juros. Para atrair os capitais interessados em lucros maiores. Daí surge a pergunta. Se os juros são altos, para que correr o risco de produzir? É mais seguro investir nos juros altos do que vender um produto que poderá ou não gerar o lucro esperado. A conseqüência é a deflação, ou seja, a diminuição geral dos preços. Entretanto, a deflação continuada deprime a economia, porque os empresários deixam de investir. Têm medo de não conseguir um preço de venda que cubra os custos de produção e lhes dê uma margem de lucro que compense o risco da própria produção.E as conseqüências da depressão econômica foram bem analisadas pela literatura econômica keynesiana: o flagelo do desemprego, da exclusão social, da violência e dos crimes. "Estima-se que em 2020", a continuar esta mesma política, "1 bilhão de pobres viverão nas cidades e um quarto da população dos centros metropolitanos dos países desenvolvidos será pobre." Atualmente, "nos países em vias de desenvolvimento, 700 milhões de pobres vivem nas cidades, destacando-se 60% da população de Calcutá e 64% da cidade de Guatemala. A pobreza, por outro lado, multiplica os fatores de risco da população nos casos das catástrofes naturais, como as cheias de Moçambique, os terremotos na Turquia e os furacões na América Central."
Medidas de emergência
Destarte, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento aponta algumas outras causas que "dificultam a recuperação dos pobres. A ausência de ordenamento do território, a existência de aglomerados populacionais informais, a má qualidade da habitação, a falta de estradas, as ligações ilegais às redes de abastecimento de eletricidade, a inexistência de seguros, a falta de educação e informação."O PNUD apontou, também, algumas medidas que deveriam ser implantadas imediatamente (ver quadro na página ao lado) e assinalou que os países ricos, nos últimos sete anos, diminuíram de forma acentuada a sua ajuda oficial ao programa. A ajuda corresponde, atualmente, a 0,23 % do Produto Interno Bruto daqueles países. Em conseqüência, o programa da ONU pede uma cooperação internacional em todos os níveis, sobretudo na ajuda oficial ao desenvolvimento.
MEDIDAS DE URGÊNCIA SUGERIDAS PELO PNUD
1ª - Combate ao analfabetismo.
2ª - Aumento da capacidade de emprego.
3ª - Prestação de assistência sanitária, mediante parcerias com associações locais e o setor privado, através de serviços porta-a-porta, dependentes estes, de uma rede de moradores de bairros pobres com formação especial.
4ª - Criação de grupos de mediação constituídos de cidadãos, destinados a transmitir as preocupações das populações às autoridades municipais e assegurar uma oferta rápida e eqüitativa dos serviços a todos os grupos populacionais.
5ª - Financiamento do investimento social através da emissão de obrigações municipais e mecanismos de reembolso previamente estabelecidos.
6ª - Recuperação das zonas degradadas das cidades, geralmente os centros históricos, preferencialmente de modo a que os pobres não tenham de mudar-se.
7ª - Definição de uma abordagem participativa que leve os cidadãos a tomarem parte na elaboração do planejamento e do orçamento municipais.
8ª - Introdução de impostos simbólicos de reduzido valor, destinados ao financiamento da solidariedade internacional.
Neste sentido, uma das formas de trabalho mais destacadas pelo Fórum da Aliança Mundial das Cidades Contra a Pobreza - AMCCP - são as 'parcerias'. Entre municípios, especialistas, organizações não governamentais e instituições da ONU. Além delas, diz a Aliança, há que se encontrar formas inovadoras para financiar o desenvolvimento social, apresentando novas propostas; manifestar, ainda, as preocupações das cidades; prever como enfrentar catástrofes e situações de emergência, especialmente nas zonas pobres; trocar informações sobre as várias experiências.Na quarta-feira anterior à abertura do Fórum, o Fundo Monetário Internacional divulgou alguns dados globais, dentre os quais "o de que um quinto da população mundial vive com um dólar, ou ainda menos, por dia." Portanto cerca de 1,2 bilhão. Segundo o World Economic Outlook (perspectivas da economia mundial), o século XX foi marcado pela incapacidade de quebrar o ciclo de estagnação e pobreza dos países mais pobres. "Nos últimos 25 a 30 anos houve, inclusive, em alguns desses países, diminuição, em termos absolutos, dos rendimentos por habitante." Neles, o nível real do Produto Interno Bruto por habitante, em relação ao dos países mais desenvolvidos em 1900, é 2000 vezes menor.Em 2000, a África tem um PIB médio por habitante de 1.290 dólares, enquanto, em dados comparáveis, em 1900 a Europa Ocidental tinha um valor médio de 3.092 dólares, com um máximo de 4.593 dólares no Reino Unido. Portugal tinha em 1900 um PIB por habitante de 1.408 dólares, superior ao que a África tem atualmente.A quarta parte mais rica do planeta viu o produto por habitante multiplicar-se por seis ao longo deste século, mas o quarto mais pobre teve uma multiplicação por três no mesmo período, aumentando a diferença de rendimentos entre os dois extremos. "O mundo está a entrar no século XXI com a maior divergência alguma vez registrada entre países ricos e pobres".Para o FMI, as razões que explicam a pobreza são complexas e muito diferentes de país para país, mas freqüentemente incluem políticas econômicas desastradas, instituições fracas, instabilidade política e conflitos armados. "Fatores externos também contribuem, como choques nos termos de troca das matérias primas, ausência de investimentos estrangeiros e de fluxos de capitais privados. Os países pobres aparentam uma incapacidade de competir em um mundo crescentemente globalizado".Em 1996, estando eu em visita à professora Gery Augusto, na escola de política de governo da Harvard University, expressou ela seu temor de que o continente africano perdesse o passo da História e acabasse ficando marginalizado e excluído do mercado mundial, e mais ainda, do próprio processo civilizatório. Os dados acima apresentados deixam entrever a base dos temores da ilustre professora, profunda conhecedora dos assuntos africanos, consultora que é de vários países daquele continente e a primeira negra a lecionar naquela tradicional instituição americana de ensino.Entretanto, esses dados catastróficos não nos devem desanimar, porque, considerando um período histórico mais longo, o do século XX inteiro, constatamos vários fatos positivos. Em primeiro lugar, "a produção de bens e serviços excedeu toda a produção anterior da qual se tem registro. Em segundo lugar, a produção mundial multiplicou-se 19 vezes entre 1900 e 2000, crescendo a média de 3% ao ano, enquanto a população multiplicou-se por 4, ao ritmo de 1,4%. Em terceiro lugar, apesar das grandes desigualdades, houve alguma convergência nos indicadores relativos à esperança de vida e aos níveis de educação."
Os dados citados entre aspas foram todos tirados do boletim do Serviço de Notícias Igreja no Ceará - SNIC, serviço à pastoral de comunicação do Regional Nordeste I da CNBB, disponível na Internet através do seguinte e-mail: igreja.ceara@secrel.com.br.É possível ou não?
Vamos agora, retomar a resposta principal à pergunta título deste artigo: desde que haja vontade política, é possível erradicar a pobreza do mundo. Ocorre, entretanto, que os políticos e seus cúmplices multibiliardários concentram quase toda a mediocridade espiritual do planeta, o que permite à soberba, ao orgulho e ao egoísmo corromper os seus corações e à ganância impedi-los de ter a vontade política de erradicar a miséria material da terra.Neste sentido, Paul Krugman, um dos mais festejados economistas da nova geração, professor do Massachussets Institute of Technology (MIT) e colunista bissemanal do prestigioso jornal americano New York Times, traz a mais recente indicação da ação dos poderosos contra os pobres. Vale transcrever um trecho da matéria intitulada "Morte e impostos", publicada em O Estado de São Paulo do dia 15 de junho passado: "Então, por que os parlamentares (americanos) votaram pela revogação de um imposto que rende US$ 30 bilhões por ano, embora ele não atinja a vasta maioria dos seus eleitores? A verdade é que a votação para revogar o imposto sobre a herança é só uma demonstração, raramente tão óbvia, de uma lei do poder muito mais simples - a de que o dinheiro fala mais alto."Para ter-se uma idéia do que possa ser feito com US$ 30 bilhões, lembra o professor que esta quantia representa "aproximadamente a mesma quantia que o governo (americano) gasta com crédito ao imposto de renda, um programa que ajuda milhões de trabalhadores pobres, mas recebe constante resistência dos conservadores."
Quem fala mais alto
O professor americano mostra que esse imposto sobre herança, nos EUA, "realmente é um imposto retirado quase inteiramente dos muito, muito ricos". Informa, então, que "o atual imposto sobre herança aplica-se somente a acervos superiores a US$ 675 mil, com previsão de aumentar o nível de corte para US$ 1 milhão nos próximos anos; como resultado, somente cerca de 2% dos acervos pagam imposto - um fato que os opositores à revogação tentaram em vão divulgar. Mas mesmo esse valor de 2% não conta a metade da história. Por causa da lei de força, bem mais da metade do valor desses 2% dos acervos na verdade está nas mãos de 0,4% das pessoas. E, já que somente a quantia que excede US$ 675 mil é tributada e a taxa do imposto aumenta conforme o tamanho do acervo, a carga anual de impostos sobre herança na verdade é paga por somente alguns milhares de acervos."Do ponto de vista sociológico e político, o que permite aos poderosos defender os seus interesses em detrimento dos pobres é a desinformação. Podemos ouvir, novamente, a mesma fala vinda do mencionado mestre: "Se os americanos de classe média tivessem qualquer noção realista a respeito de quão ricos os ricos realmente são, medidas políticas que agradam especificamente aos ricos - como a revogação do imposto sobre herança, votada pelo Parlamento na semana passada - seriam muito mais difíceis de serem adotadas." No Brasil, não existe este imposto sobre a herança de grandes fortunas.Neste artigo, vimos que ao lado de progressos ocorridos ao longo do século, muitos, ainda, são os dados sobre a pobreza e desigualdade que chocam ao extremo a sensibilidade humana. Mais ainda: pudemos perceber que a corrupção espiritual e material dos poderosos, aqui incluídos também os falsos representantes do povo, joga um papel determinante na manutenção deste estado de coisas. Verificamos, pois, como o papa João Paulo II tem razão, quando afirma ser o egoísmo a causa da miséria.O que devemos fazer então, em nosso nível de atuação? A primeira coisa é sair do comodismo, buscar as informações e divulgá-las. A segunda coisa é participar do governo das cidades. Por dever, já que quase não há prazer nisso. Participar da elaboração dos orçamentos municipais, como bem recomendou a Aliança Mundial das Cidades Contra a Pobreza.E um bom exemplo de como gastar bem os recursos, sempre escassos, nos é dado pelo município brasileiro de Pato Branco, no Estado do Paraná. Lá, o prefeito, segundo Delfim Netto em sua coluna na Folha de São Paulo do dia 14 de junho, "colocou em marcha uma verdadeira revolução educacional e tecnológica. Instituiu o regime de tempo integral para todas as crianças em idade escolar. Oito horas diárias de estudo com alimentação e atendimento 200 dias por ano para todo o ciclo básico. Não há criança na rua e não há trabalho infantil (a comunidade cuida da vigilância). Houve uma redução de 80% de infrações adolescentes no primeiro ano do programa e, devido à alimentação e à higiene proporcionadas pelo tempo integral, o número de atendimento de crianças nas regiões mais pobres nos postos de saúde reduziu-se em 60%."À luta, cidadãos!

domingo, 9 de agosto de 2009

Dia dos Pais

Neste dia queremos fazer uma homenagem a todos os Pais com esta poesia do nosso querido Dr Mário a quem nós lmcs temos como um grande Pai !

IMAGEM DE PAI

Existe um homem que se esmera no cumprimento do dever para dar bom exemplo;
que fica humilde quando poderia se exaltar;
que chora a distância a fim de não ser observado;
que, com o coração dilacerado, se embrutece para se impor como juiz inflexível;
que, na ausência, usam-no como temor para evitar uma ação menos correta;
que, quase sempre, é chamado de desatualizado;
que, apenas fisicamente, passa o dia distante na labuta por um futuro melhor;
que, ao fim da jornada, avidamente, regressa ao lar para levar muito carinho e, às vezes, pouco receber;
que está sempre pronto para ofertar uma palavra orientadora ou relatar uma atitude benfazeja que possa ser imitada;
que, muitas vezes, passa noites mal dormidas a decifrar os segredinhos da vida, para transmitir ensinamentos sem as naturais vicissitudes;
que, quando extenuado, ainda consegue energias para distribuir confiança;
que é tão humano e sensível, por isso, normalmente, sente a ausência do afeto que lhe é dado raramente e de forma pouco comunicativa;
que, vibra, se emociona e se orgulha pelos feitos daqueles que tanto ama.
Esse homem, geralmente, se agiganta e passa a ser valor inexorável quando deixa de existir para sempre.
Nunca perca, pois, a oportunidade de devotar muito carinho e amizade àquele que é seu melhor amigo: SEU PAI.


LIVRO: Cristo me marcou
Mário Ottoboni
Edições :Paulinas

Nota: “IMAGEM DE PAI”, consta da coletânea Bradesco, os melhores poemas do Brasil.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Festa

Com muita alegria festejamos os aniversariantes do grupo neste início de mês.

Vanessa fez aniversário dia 05 e numa bonita festa junto a sua familia e a comunidade do Ipê Amarelo, pudemos comemorar e celebrar o dom de sua Vida. Não faltou caldo de mandioca, pão de queijo e o bolo de aniversário!
Hoje, celebramos e agradecemos a Deus pelo dom da Vida de Valdeci.
Obrigado pelo testemunho de Vida e doação,
Com carinho seus irmãos de caminhada,

quinta-feira, 30 de julho de 2009

[ADITAL] Agência de Informação Frei Tito para a América Latina www.adital.com.br

29.07.09 - BRASIL

Empresa de transgênicos impede publicação da cartilha ‘O Olho do Consumidor’Adital - Uma cartilha produzida pelo Ministério da Agricultura sobre agroecologia teve sua distribuição impedida. A cartilha "O Olho do Consumidor", que conta com ilustrações de Ziraldo, foi lançada para divulgar a criação do "Selo do SISORG" (Sistema Brasileiro de Avaliação de Conformidade Orgânica) que pretende padronizar, identificar e valorizar produtos orgânicos, orientando o consumidor.
O livreto, que teve tiragem de 620 mil cópias, foi objeto de uma liminar de mandado de segurança, fruto de ação movida pela transnacional Monsanto, que impediu sua distribuição. Setores do Ministério ligados ao agronegócio também não ficaram contentes com as informações contidas na cartilha. O arquivo foi inclusive retirado do site do Ministério.
A proibição se deu por conta do item 5 da página 7 , onde se lê: "O agricultor orgânico não cultiva transgênicos porque não quer colocar em risco a diversidade de variedades que existem na natureza. Transgênicos são plantas e animais onde o homem coloca genes tomados de outras espécies".
Em autêntica desobediência civil e resistência pacífica à medida de força, o MST se junta a todos aqueles que estão distribuindo eletronicamente a cartilha. Se você concorda com esta idéia, continue a distribuição para seus amigos e conhecidos.
A cartilha está circulando na internet. Leia e divulgue:
http://www.aba-agroecologia.org.br/aba2/images/pdf/cartilha_ziraldo.pdf

O AMOR DESTA TARDE

Poema de Pe Paulo Suess que se encontra no livro Do grito a canção - poemas de resistência. Edições Paulinas, 1983.



O AMOR DESTA TARDE

Ainda que eu falasse
a língua dos Apurinâ e Zoró,
de Mao, Che e Luther King,
de todas as tribos vivas
e até dos povos extintos
da terra e da memória –
se eu não tivesse o amor,
seria um trombone de lata fria,
um computador plurilíngüe
num país estrangeiro.

Mesmo se eu profetizasse
as catástrofes do amanhã,
com uma prevenção matemática do eclipse,
e explicasse os segredos mortíferos
da usina nuclear ao vigia noturno
de Angra dos Reis
e se eu tivesse toda a fé
para andar sobre as águas poluídas
sem contaminar o meu pé –
se não tivesse o amor,
seria apenas um instrutor sabido,
um Pilatos vidente,
um útil inocente descomprometido.

Ainda que distribuísse
todos os meus sapatos e almoços
em socorro de favelados descalços
e do povo faminto
e se entregasse meu corpo
aos anófeles da Amazônia,
meus sonhos aos tormentos da Cobra Grande
e meu espírito à burocracia de Brasília –
se não tivesse o amor,
seria apenas mais uma cobaia revolucionária,
um caçador de borboletas
ou um poeta sonhador.

O amor é paciente como o povo
treinados por promessas na Igreja
e nas filas do INPS.
o amor partilha os seus bens
e rejeita a competição.
o amor é manso, não se compara, não se explora
não domina, nem aceita a dominação.

O amor não se irrita na luta
e não cobra do inimigo o dente perdido.
mesmo sofrendo a injustiça dos tribunais,
denuncia a mentira dos grandes
e pede perdão pelos erros dos pequenos.
O amor acredita na força do povo.
e enquanto carrega o fardo dos fracos,
espera a vida abundante.
O amor é invencível.

Os profetas ficarão mudos,
os poliglotas gagos
e os sábios acabarão no esquecimento.
Porque a nossa sabedoria é pobre
e passageira é a nossa profecia.
Mas quando vier a luz
que transformou a noite,
será recuperado o brilho de nossos olhos.
Quando era criança
gritava como criança,
corria como criança,
brincava como criança,
Mas quando me tornei adulto
deixei de gritar como antes
e descobri uma alegria serena
como um rio que venceu as cachoeiras.

Agora vemos os acontecimentos em espelho
narcisisticamente confusos,
mas depois os veremos de verdade.
Agora não entendo as pessoas
por que meu amor é cego;
mas depois as conhecerei
como também eu sou conhecido.
Amarei como sou amado.

Agora permanecem
a fé, a esperança e o amor.
Acredito na presença de Deus-Pai
e no homem irmão.
Espero a nova ordem da partilha entre todos.
Num amor apaixonado
beijo os tumores cancerosos na pele,
no rosto, na boca do mundo.
Atrás das máscaras arrebentadas
pelos raios do meu sopro,
caras novas aparecem.
Entre a promessa acredita
e a partilha esperada
o mais importante
é o beijo desta tarde
que acorda um pobre.






segunda-feira, 27 de julho de 2009

Meu sexto mês no Ipê Amarelo


Eu agradeço a Deus por mais um mês nessa missão, nessa caminhada com o povo de Deus. Nesse mês passei mal e fiquei internada com a pressão muito baixa e através dessa dificuldade recebi muitos carinhos e principalmente os cuidados da Cristina que foi uma verdadeira irmã para comigo. Estou muito tranguila e confiante na presença de Deus que conduz meus passos nessa missão. Tive a oportunidade de conhecer Curitiba uma cidade linda, foi um presente na missão. Além de conhecer a família da Cris, visitei o grupo de apoio da Paróquia de Santa Amélia, que contribui com Leigos Missionários e visitei a Comunidade de São Francisco e Santa Ana da Gui, missionária que está na África. Nesse dias fiquei em casa com minha família, foi tudo de bom. Visitei meus amigos do Lindéia que são realmente meus irmãos nessa caminhada missionária. Agradeço a Deus pela minha graduação, meus estudos, minha vida no Ipê Amarelo e minha vida comunitária com a Cristina. Na graça.
Vanessa LMC

Notícias da Missão

Notícias enviadas por Rai Soarea - leiga missionária brasileira que participa do Projeto Lichinga - Regional Nordeste. Com muita alegria partilhamos as notícias recebidas e que com certeza nos alimentam em nosso chamado a Missão Além Fronteiras.


Crianças e Adolescentes na colônia de férias



No período de 22 a 25 deste mês na comunidade de Mitucue - lugar histórico na maravilhosa serra do mesmo nome - aconteceu à tradicional “Colônia de Férias”, uma iniciativa da “Comissão da Criança e Adolescência” (Infância e Adolescência Missionária) da Paróquia de São Miguel Arcanjo em Cuamba (Moçambique).

Participaram 180 crianças e adolescentes das comunidades de: Cidade, Aeroporto, Adine I, Adine II, Mutxora, Mendonsa, Nassombe, Maganga I, Carlos Luanga, João, Mecupa, Enjato. Foram momentos de estudos sobre os temas: “Sou chamado a ser Criança Missionária” e “Fazer amigos para Jesus” e de muita partilha em forma de poesia, teatro, danças, cantos.



Alguns gestos marcaram esta colônia como a partilha da esteira onde dormiam com o⁄a amigo⁄a que não tinha e também a partilha do tênis, do chinelo nos momentos de lazer para o⁄a amigo⁄a que não tinha nada nos pés. Foi lindo ver os pequenos gestos das crianças em solidariedade com a outra criança.



Muitas crianças em suas casas têm apenas uma ou duas refeições por dia, feita com farinha de milho e peixe pequeno ou verdura e na colônia elas tem cinco refeições (mata bicho – café, lanche, almoço, lanche e janta), variadas com verduras, peixes, carne de cabrito, arroz, farinha de milho e biscoitos. É gratificante ver os olhares brilhando com vão com o seu prato receber o alimento.

A colônia de férias é um momento forte de troca de experiência, de conhecimento e de formar amizade entre os participantes. Ser amigo aqui e querer muito bem o outro e demonstrar com gesto andando de mãos dadas.

Cuamba, 26 de julho de 2009

Rai Soares

terça-feira, 14 de julho de 2009

Notícias

Festa Junina

Este é o segundo ano em que as irmãs capuchinhas, convidam as equipes missionárias para uma quadrilha, com direito a bebidas tradicionais – cabanga e marreu - bolo de batata doce, bolo de mandioca e outras goloseimas compartilhadas por todos,as.

Massangulo,

Localizado na província do Niassa, tem uma belíssima igreja, onde no dia 28 de junho foi elevada a santuário diocesano de Nossa Senhora da Consolata e no mesmo dia tiveram 04 ordenações, uma diaconal e 03 sacerdotal, pelo bispo de Lichinga Dom Elio Greselim.



Rio Lugenda, fica no caminho entre Mauá e Lichinga. Por causa das fortes chuvas todos os anos transborda. Na viagem de Lichinga para Cuamba por essa via encontramos a ponte coberta de água e ela não tem proteção nas laterais. Para passarmos tivemos que esperar um dia e meio, nossa sorte que há poucos kms dali tem uma missão dos padres da Consolata, onde ficamos hospedados, e ainda passamos com muita água cobrindo a ponte



Conta a historia que a Rainha Achivanjila, era uma mulher muito boa, e ajudava a todas as pessoas que a procuravam. Hoje ela tem seu tumulo próximo a estrada e todos que passam por lá fazem reverencia a ela. Quem por acaso não diminui a velocidade do carro em sinal de respeito, coincidência ou não, no seu carro acontece alguma avaria (problema).





POSTO DE SAÚDE DA DIOCESE.

Faço supervisão nos quatro postos de saúde da Diocese aqui em Cuamba, são eles: (Mepessene, Nambawa, Mukutu e Murussu.

Todas as terças feiras tem pesagem das crianças e as quintas, acompanhamento das mulheres grávidas. A distancia entre eles e Cuamba, fica entre 15 a 40 kms, estrada de chão com muitos buracos.


ENCONTRO COM MULHERES NA MISSÃO DE MULEVALA

Mulevala fica na província da Zambézia, onde um final de semana por mês faço encontro com as mulheres nas comunidades sedes. São 15 comunidades sede com 07 a 10 comunidades no seu entorno. O assunto que tratamos é a saúde da mulher e das crianças. Trabalhamos com bandas desenhadas, que são cartazes feitos em panos e ensinamos a preparar xaropes e pomadas. Em cada encontro reúne-se cerca de 100 mulheres.

Também em Mulevala, fomos visitar o monte Muhugole, onde está sendo construído um santuário, pois nesse monte apareceu Nossa Senhora e foi visto por pessoa de várias comunidades. Além da Igreja foram construídas pequenas grutas. É um local agradável para rezar, descansar e contemplar a natureza. Quando chega visita o sino toca e as crianças vêm ao encontro.


(Notícias enviadas por Rai Soares, missionária brasileira da equipe Lixinga, Regional Nordeste)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Partilha do mês de junho

Contagem, 01 julho de 2009.

Queridos Amigos,


Escrevo para poder partilhar um pouco da nossa caminhada com cada um de vocês que são parte desta nossa pequena família missionária LMC.
Retornei no início de junho e desde então vivo as alegrias e tristezas aqui do Ipê Amarelo, juntamente com Vanessa que realizou uma linda experiência de vida neste primeiro semestre. Estudo, escuta da realidade, muitas leituras, partilhas, conclusão do seu curso... Agora já temos uma pedagoga no grupo e sua formatura será em agosto. É hora de celebrar e comemorar o esforço da caminhada.
Sinto que o ano para mim começa agora, minha agenda estava limpinha e assim vou aceitando os convites que vão aparecendo... Faço a experiência que Deus é Providencia, porém, tento não descuidar da minha parte.

Recebemos aqui em Casa a Andréa que por quase 10 dias se encantou com o jeito de ser e viver LMC. Tenho certeza que voltou para Curitiba feliz e com muita vontade de se preparar para vir em breve para cá. Fico aliviada, pois ela não tem motivos para nos processar por propaganda enganosa !!! Foi uma experiência muito bonita.


Fizemos o Retiro de Discernimento nos dias 12 e 13 de junho na Pampulha. Outra experiência maravilhosa!!! Acabou sendo um Encontro Vocacional, mas o fato de ficarmos acampadas na Casa de Tere e Alejo e estarmos tão próximos nestes dias no sítio: nós, Athaíde, Andréa, Pe Jorge,...as partilhas, a missa, o pomar, ... fez com que vivêssemos momentos de profunda união com cada um de vocês, os de mais longe e os de mais perto. Saímos renovados e confiantes na nossa consagração à Missão !!!


Dia 21, tivemos um momento de formação e avaliação da caminhada do primeiro semestre: ligar a prática e a reflexão. Coisa muito boa, pois depois de nossa mudança para cá, este é o primeiro ano que temos alguém em formação. Assim partilhamos o como esta comunidade ajuda quem chega a fazer uma experiência profunda e formativa em todos os sentidos. Vamos vendo acontecer na vida o que sonhamos para a nossa formação dentro da pedagogia de Jesus no caminho de discípulos missionários. Assim vamos confirmando que “quem forma, se forma e reforma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado” de Paulo Freire.
Agradecemos a Deus por nos ter enviado Vanessa, que alem da formação familiar, tem uma caminhada muito bonita e o coração aberto á Missão Alem Fronteiras. Não vamos deixar de pedir a Deus, com ajuda de São Comboni que envie mais gente, disposta a colaborar, a contribuir, a vivenciar e a lançar-se em direção do Outro, aqui ou mais além. Vanessa se prepara para sua experiência Missionária em Rondônia junto com a Rose.

Assumimos alguns compromissos para este segundo semestre:
- viver a dimensão comunitária, o conviver no dia a dia, nas tarefas da casa, na oração, nos compromissos de trabalho, pastorais,...
- viver a dimensão da combonianeidade – o nosso ano de convivência prevê um estudo sobre Daniel Comboni e estamos nos organizando de termos momentos conjuntos com os escolásticos que estão chegando para Nova Contagem, junto com Pe Jorge e Pe Chico
- queremos um encontro para o final do ano ou janeiro para todos os que sentem a espiritualidade comboniana. Será um momento de partilhar a experiência missionária da Lourdes, fazer o envio da Vanessa e nos reabastecer comunitariamente com amigos, parentes, colaboradores, simpatizantes, futuros lmc´s, padres, irmãos, irmãs...

Com muito carinho e com o coração repleto de ardor missionário,
Até breve,

Cristina

terça-feira, 23 de junho de 2009

A voz de Deus agora


"É fácil, relativamente fácil, escutar o chamado de Deus através dos acontecimentos do nosso tempo e do nosso meio. Difícil é não parar em atitudes emotivas de compaixão e de pesar. Dificílimo é arrancar-nos do comodismo; quebrar estruturas interiores (as mais duras e penosas de quebrar) ; deixar-nos revolver pela graça; decidir-nos a mudar de vida; a converter-nos! D. Helder Câmara



Vem, Senhor


Não sorrias,

dizendo

que já estás conosco.

Há milhões que não Te conhecem.

E de que basta conhecer-Te,

de que adianta Tua vinda,

se para os Teus

a vida continua igual?...

Converte-nos!

Revolve-nos!

Que a Tua mensagem

se torne carne de nossa carne,

sangue do nosso sangue,

razão de ser de nossa vida.

Que ela nos arranque

do comodismo

da boa consciência!

Seja exigente,

incômoda,

pois só assim

nos trará a paz profunda,

a paz diferente,

a Tua paz!...


(Do livro: O deserto é fértil. D. Helder Câmara. p. 25-26.)

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Dia da Criança em Moçambique

MWANA – CRIANÇA.

AQUI EM MOÇAMBIQUE CELEBRA-SE O DIA DAS CRIANÇAS, NO PRIMEIRO DE JUNHO.

“A criança como a pequenez é o arquétipo, o paradigma, o critério e a chave cordial para a compreensão de todas as componentes essenciais da biosfera e biosofia do Makua xirima. Para compreender o comportamento de Deus, dos espíritos, da autoridade, da vida matrimonial..., o Makua xirima não se cansa de repetir que é preciso assumir a criança como ícone básico capaz de desvelar e resolver os enigmas da existência humana”.

Provérbios Macua:

· A criança é como o galo com o seu choro desperta os adultos ao amanhecer.

· Nunca se mostra a uma criança o espelho, pode assustá-lo.

· O espírito é como uma criança: embala-se.
· As crianças são como espírito: fácil a zanga e ao sorriso.

· Gerar filhos é cercar o quintal.

· A criança não sente vergonha é como o galo.

· Os filhos são como a primavera: é agradável observá-las.

· O lar sem criança não é respeitado.

· As crianças são como pombos: crescem alimentadas com comidas gugurgitada.

· A criança é como o mel, não se cava de cima.

· A criança não esquece a voz da mãe.

· Brincar com crianças é sorrir para elas.

· A criança é semente de Deus.

· Deus é criança: toda a sabedoria esta com ele.

Queridos amigos, estou bem e com saudades.
Rai Soares - leiga missionária brasileira atuando em Lichinga

Espiritualidade bíblica – Pentecostes: o nascimento da Igreja


A criação da comunidade messiânica:
No dia de Pentecostes, o Espírito de Jesus encheu os corações dos seus discípulos e discípulas, quando estavam reunidos.
Nós, também, no batismo, nascemos para a vida no Espírito e cada dia renascemos continuamente para o projeto de Deus, procurando falar a linguagem do Espírito a todos os povos do mundo de hoje.
Segundo o evangelho de João, Jesus se manifesta aos seus amigos na tarde do domingo de Páscoa; esta referência à tarde de domingo reflete a práxis cristã de se reunir para celebrar a memória da morte e ressurreição de Jesus. Os discípulos, porém, estão de portas fechadas; são uma comunidade medrosa, pois ainda não possuem o Espírito Santo. O medo é como um freio que lhes bloqueia a tarefa de testemunhar o Cristo ressuscitado.
Doutro lado, as portas fechadas mostram o novo estado de vida do ressuscitado, para quem não há barreiras. Jesus se apresenta no meio da comunidade. De fato, ele é o centro e a razão de ser da comunidade. Logo saúda os discípulos: “A paz esteja com vocês”; e, depois destas palavras, mostrou-lhes as mãos e os pés”. As cicatrizes do Mestre indicam que o ressuscitado não pode ser anunciado apenas em seu aspecto glorioso; aquelas mãos e aqueles pés transpassados na cruz são a memória permanente das torturas sofridas.
A comunidade, fortificada pela presença do ressuscitado, está pronta para continuar a missão que ele recebeu: “Como o Pai me enviou, assim também eu envio vocês. Tendo falado isso, Jesus soprou sobre eles, dizendo: Recebam o Espírito santo”. O sopro de Jesus é a nova criação e remete ao que Deus fez quando criou o ser humano (Gn 2, 7). É o sopro da vida nova. Assim nasce a comunidade messiânica.
A comunidade continua a missão de Jesus
Jesus presente transforma totalmente a situação medrosa da comunidade dos apóstolos, capacitando-os a ser os anunciadores da sua vitória sobre os mecanismos de morte. Reunidas pelo Espírito de Jesus, as comunidades cristãs de hoje, com seus comportamentos e estilo de vida, provocam o julgamento de Deus sobre o mundo, anunciando a boa-nova do evangelho e denunciando todas as opressões que a destroem. Todavia, ninguém possui plenamente o Espírito, e ninguém está privado dele; só na união de todos, formando a comum-unidade, é que cresce o corpo de Cristo, o templo do Espírito Santo, a Igreja que somos.
Os cristãos têm a tarefa de continuar o projeto de Deus, manifestado na Paixão-Morte-Ressurreição de Jesus. Este projeto é sintetizado desta forma: “Os pecados daqueles que vocês perdoarem serão perdoados; os pecados daqueles que vocês não perdoarem não serão perdoados”. Seja claro que esta frase de Jesus não tem nada a ver com o sacramento da penitência, chamado impropriamente por muitos de “confissão”. O pecado é essencialmente comprometer-se com a ordem injusta que levou Jesus à morte na cruz.
Hoje em dia, também, há muitas ordens injustas que continuam matando gente. Ora, Jesus veio para que todos tenham vida e vida em abundância. Mas este projeto recebeu e continua recebendo forte oposição dos que querem a vida só para si mesmos. Aí está a raiz do pecado, de acordo com o evangelho de João. Portanto, os pecados são atos concretos decorrentes dessa opção fundamental contra a vida das pessoas e contra a liberdade delas.
Diante disso, Jesus nos dá o poder de perdoar ou não perdoar. A comunidade cristã cumpre esta função, mostrando onde está a vida e onde se aninha a morte; promovendo a vida e quebrando os mecanismos que procuram destruí-la; conscientizando as pessoas e desmascarando os interesses ocultos dos poderosos.
O que significa, hoje em dia, não perdoar os pecados dos latifundiários, dos corruptos, dos políticos que utilizam o poder e o dinheiro e a terra para defender somente seus interesses?Tarefa difícil das comunidades cristãs, não sempre fiéis a essa maneira de evangelizar.
Não se trata de julgar as pessoas; mas de constatar e confirmar o juízo que o homem faz de si próprio diante do projeto de vida, manifestado por Jesus.
(“Vida Pastoral”- n. 266 – Maio-Junho de 2009 – pag. 50-51)
Pe Valentino Benigna

terça-feira, 26 de maio de 2009

Testemunho de Ana Maria Matias


O dia 26 de maio marca profundamente nossa caminhada: foi o dia em que a leiga missionaria comboniana ANA MARIA MATIAS partiu para a casa do Pai no ano de 2001. Completaram-se 8 anos de seu falecimento, mas seu testemunho de vida e missão permanecem forte junto aos lmc e a comunidade paroquial Nossa Senhora Aparecida.



"Quando cheguei no Ipê e vi a situação de violencia, a falta de conforto e senti na pele a falta de água no bairro, a única certeza que eu tinha era a vontade de largar tudo e ir embora. Um dia desanimada, sentei em frente de casa na rua e vi mulheres, crianças e jovens subindo e descendo carregando baldes, bacias e latas de água. Então tive um clique, a ficha caiu e eu disse para mim mesma: " - Ana, você nao veio aqui por causa de água, de conforto, mas por este povo. E ainda hoje estou aqui". (testemunho de Ana Matias , festa do aniversário de morte de Comboni - 10 de outubro de 2000)


Continuamos nossa presença como LMCs morando no Ipê, o sonho e o projeto que um dia a fizeram mudar de vida e levou-a a Missão, continuam vivo e presente no trabalho junto a comunidade. Apesar das dificuldades estamos firmes na caminhada, porque temos também uma incansável intercessora junto de Deus.

Um abraço amigo e fraterno a todos,


Cristina Paulek

segunda-feira, 4 de maio de 2009

A vinha que Deus me chamou a trabalhar.

Queridos Amigos,

Com muita alegria escrevo daqui de Benfica, arredores da grande cidade de Maputo. Agora já estou recuperada da minha primeira malaria, desde que retornei a Moçambique em janeiro de 2008.
Aqui nestes dias nas atividades do corte e costura as palavras de ordem são: Reaproveitar, Reutilizar e Reciclar. Tudo isso para repensar o nosso jeito de usar o que temos a disposição revendo também as nossas idéias.
Estou presente junto as mães explicando como tirar medidas, no corte e costura industrial. Depois de um curso intensivo onde se aprende calça e camisa social, agora já se costura de tudo: fizemos várias batinas, uniformes escolares,.. As alunas fizeram sacolas com os retalhos, uma maneira de incentivar que tudo pode ser útil. Também fizemos saco para comprar pão, assim a natureza é preservada e não precisamos usar os sacos plasticos.
Com muita festa encerramos mais uma etapa de formaçao com a exposição dos trabalhos e até chapeuzinhos conseguimos fazer. Agora estão fazendo calças e camisas e quando terminam já levam para casa pois os uniformes tem urgência.
Minha companheira de missão, Vania, faz o curso a noite e nestes dias fomos passear na casa de amigos e acabamos ajudando a colher amendoin na roça. São momentos importantes de convivência.
Queridos amigos sigo contente na sala de costura, a vinha que Deus me chamou a trabalhar. A messe é grande, mas os operários são poucos. E o convite de Jesus é super atual: “Venha você também trabalhar na minha vinha !”. Então qual sua resposta?
Abraços,

Guilherma Vicenti - maio de 2009


segunda-feira, 27 de abril de 2009

Crise Econômica

Frente a crise econômica, se o Brasil não tivesse optado pelo crescimento econômico mais sustentável, o que seria dos milhões de brasileiros mais pobres. Envio o texto de Juarez Guimarães que nos ajuda a compreender a macropolítica econômica. Adélia

ECONOMIA: A nova economia política do governo Lula em 27/03/2009

Pela primeira vez na história brasileira, estão sendo criadas as condições para um ciclo sustentado de crescimento econômico com distribuição de renda. O aprofundamento da dimensão distributiva deste ciclo, que depende das lutas democráticas e populares, pode permitir a superação da pobreza crônica que assola a vida dos trabalhadores e dos pobres desde a origem do país.

por Juarez Guimarães*
Os grandes empresários da comunicação, que alimentam com ódio e preconceito diariamente a oposição ao governo Lula, já têm uma estratégia para este segundo mandato. Trata-se de três operações combinadas: esconder, turvar, baralhar a compreensão de que o país vive hoje potencialmente o ciclo econômico mais virtuoso da sua história; negar, esconder, dificultar o acesso à informação de que as políticas sociais de inclusão no segundo mandato do governo Lula tendem a alcançar uma extensão e qualidade sem paralelos históricos nas políticas públicas antes praticadas; dar um tratamento policial à cobertura política, procurando construir a imagem de que o Brasil nunca foi tão corrupto, em vez da verdadeira constatação de que o governo federal nunca combateu tanto a corrupção no país.
O reconhecimento de que o Brasil vive hoje potencialmente um ciclo econômico virtuoso inédito não pode ser reconhecido por quem faz oposição ao governo Lula. É vital que a informação e a consciência pública sobre esse novo ciclo possível permaneça obscura.
Para os que alimentam a estratégia de uma vitória do PSDB-DEM nas eleições presidenciais de 2010, isso seria um desastre fatal. Seria anular a campanha propagandística de que o governo Lula é inoperante, ineficaz e incompetente. Não seria mais possível afirmar, como se diz usualmente, que o crescimento econômico atual colhe os frutos da estabilização iniciada com os governos FHC. Tornaria sem credibilidade a acusação de que o PT, principal partido que sustenta a coalizão de governo, traiu os seus princípios fundadores, de compromisso com os que trabalham, nas cidades e nos campos, com os pobres, com os que mais sofrem exploração e discriminação.
Para os que criticam, de um ângulo sectário e esquerdista, o governo Lula, o reconhecimento de tal ciclo econômico colocaria em ponto morto o discurso de que ele continua, no fundamental, as políticas neoliberais de FHC. A própria identidade dessas correntes, hoje ainda muito minoritárias, ficaria comprometida.
No entanto, não é difícil provar com informações e análises que as opções tomadas pelo governo Lula estão sendo, em particular neste segundo mandato, crescentemente capazes de assegurar um novo ciclo econômico de crescimento sustentado com distribuição de renda. A formação dessa consciência pública é, pois, fundamental para delinear as perspectivas de quem luta pela continuidade e pelo aprofundamento do atual processo de transformações.
Contra-argumentos
O primeiro e mais surrado argumento que se levanta contra a hipótese de um novo ciclo econômico é o de que o crescimento recente da economia brasileira é mera extensão, em plano medíocre, do crescimento da economia mundial. O fundamento de um liberalismo radical, de crença nos poderes automáticos dos mercados, que sustenta esse argumento, deveria envergonhar os autores de esquerda que o utilizam. Pois as decisões do Estado nacional, no contexto das correlações de forças geopolíticas e econômicas, são fundamentais para definir a dinâmica do processo econômico.
Um exemplo: em 1995, primeiro ano do governo FHC, o superávit no balanço de pagamentos (comércio, serviços, rendas e transferências unilaterais) era de US$ 12,9 bilhões; em 1999, devido à desastrosa decisão da paridade real/dólar, havia um déficit de US$ 7,8 bilhões. Com a selvagem abertura comercial, uma política ativa de desregulamentação do mercado de trabalho e de diminuição do quadro do funcionalismo público, de 1990 a 2001 foram criados apenas 3,2 milhões de empregos. Em meio ano, somente no primeiro semestre de 2007, foram criados 1,095 milhão de empregos com carteira assinada. Mero automatismo de mercado ?
Seria mais correto afirmar que o crescimento da economia mundial tem sido uma condição necessária, mas não suficiente, para explicar o novo quadro da economia brasileira. As exportações nacionais têm crescido em patamar superior ao das exportações mundiais; houve uma importante ampliação, bem como diversificação dos parceiros econômicos, fruto, em grande medida, da nova política externa do governo Lula (por exemplo, as exportações para os EUA, que eram de 25,7% do total em 2002, hoje são apenas 17,7% do total). Mas, principalmente, é cada vez maior a responsabilidade dos aumentos da ocupação e da renda, em particular dos estratos mais pobres, e o crescente impacto dos gastos públicos do governo federal na manutenção do dinamismo da economia brasileira. Em ambos os casos, em decorrência de opções estratégicas de governo.
Além disso, uma coisa é afirmar, com razão, que a economia brasileira tinha o potencial de ter crescido muito mais nos últimos anos, se não fosse a política conservadora do Banco Central e, até parte de 2005, do próprio Ministério da Fazenda. Mas seria um erro grosseiro, de alcance histórico, banalizar o fato de que entre 2004 e 2006 a economia brasileira, pela primeira vez desde o final da década de 1970, cresceu em média 4,1% ao ano e que, neste ano, está acelerando o seu ritmo e tende a superar os 4,5%.
O segundo contra-argumento quanto à definição de um novo ciclo econômico é de que manter uma direção neoliberal no Banco Central é a prova maior da continuidade da política econômica do governo Lula em relação aos governos FHC. Sem olvidar que houve uma troca de diretores do Banco Central, saindo exatamente o núcleo mais monetarista, é preciso reconhecer analiticamente que a posição de poder do Banco Central em relação ao Ministério da Fazenda ficou bastante modificada com o controle inflacionário e a superação da vulnerabilidade externa da economia brasileira, que se consolidou a partir de 2005.
O principal instrumento de sustentação da financeirização da economia brasileira era, sem dúvida, a manutenção da taxa Selic em patamares escandalosamente mais elevados do que os juros praticados nas economias centrais. Isso definia um padrão de atração de capitais especulativos, de crescimento exponencial da dívida e de desestabilização das finanças públicas, de prática de altos juros na economia e de depressão da taxa de investimento. Durante os anos FHC, a média da taxa Selic foi de 26,59% ao ano; no primeiro governo Lula, ela foi reduzida a 18,50% em média, ficando, mesmo assim, em um patamar ainda muito elevado. O Plano de Aceleração de Crescimento prevê uma taxa Selic média nos próximos quatro anos de algo em torno de 10% (descontada a inflação prevista, de 8,1% reais em 2007, 6,9 % em 2008, 6,0% em 2009 e 5,6% em 2010).
A direção neoliberal do Banco Central continua prejudicando a dinâmica da economia brasileira. A demora na redução da taxa Selic tem atraído capital especulativo e contribuído, de forma significativa, para a valorização do real, com todas as suas conseqüências negativas sobre vários ramos industriais e agrícolas. Até agora, essa valorização excedente do real tem sido em parte compensada por forte aumento dos preços dos produtos de exportação. Mas o problema cambial, em uma conjuntura externa menos favorável, pode exercer um peso mais negativo ainda no crescimento potencial da economia.
Além disso, a completa ausência de regulação dos juros e tarifas cobrados pelos bancos comerciais, em um contexto de forte concentração de capital financeiro, tem permitido a cobrança de spreads inaceitáveis. Em particular, poderiam ser adotados mecanismos de controle de entrada e saída de capitais especulativos, como é feito em várias economias do mundo.
Mas hoje o impacto das políticas do Banco Central está severamente reduzido ao conjunto das políticas governamentais. Além disso, o enfoque desenvolvimentista do Ministério da Fazenda tem permitido decisões mais favoráveis a um novo ciclo no Conselho Monetário Nacional, como a forte redução da Taxa de Juros de Longo Prazo, praticada pelo BNDES. Um colunista neoliberal chegou a falar de uma “racionalidade heróica” do Banco Central mantida em meio a um mar crescente de irracionalidade !
O terceiro contra-argumento diz respeito à sustentabilidade do atual ciclo: ele seria profundamente dependente do dinamismo da economia mundial e esbarraria em gargalos-chave de infra-estrutura. A resposta a esse último argumento nos leva a identificar mais claramente os condicionantes fundamentais ou estratégicos do novo ciclo da economia brasileira.
Caracterização do novo ciclo
O economista Luciano Coutinho, atual presidente do BNDES, argumenta que a verdadeira estabilidade da economia brasileira teria se confirmado a partir de 2005, com o crescimento das exportações, do saldo do balanço de pagamentos e a acumulação de reservas. Esse teria sido, segundo ele, exatamente o grande fracasso do Plano Real: o aprofundamento da vulnerabilidade externa, central desde o impasse do último ciclo do crescimento na década de 1970, sob o regime militar.
Desde a primeira grande crise cambial no início dos anos 1980, todo surto de crescimento da economia brasileira foi imediatamente interrompido pela vulnerabilidade externa, que foi bastante agravada nos anos neoliberais.
O governo Lula foi capaz de promover uma guinada histórica nesses fundamentos. Desde 2003, o balanço de pagamentos tem apresentado saldo crescente, chegando a US$ 30,6 bilhões em 2006. Mais decisiva é a acumulação de reservas internacionais: desde outubro de 2006, o governo Lula havia alcançado o recorde histórico de US$ 75 bilhões; ao final do primeiro semestre deste ano, ela já havia alcançado US$ 150 bilhões, com previsões de chegar a US$ 200 bilhões no final de 2007! Só para lembrar: ao final de 2002, as reservas líquidas (tirando o aporte do FMI) eram de US$ 16,3 bilhões.
A superação da vulnerabilidade externa tem esse primeiro grande significado: criar um espaço maior de autonomia do Estado nacional frente ao dinamismo do mercado mundial, em particular das pressões dominantes do capital financeiro. Ela permite internalizar os centros de decisão macroeconômica em uma medida importante e inédita nas últimas décadas. Frente a novos dinamismos da economia mundial, o Estado nacional tem agora margem de manobra conquistada para agir. Esse é o primeiro fundamento do novo ciclo.
O segundo é a nova e imensa capacidade de ação macroeconômica do Estado na economia brasileira. Com a queda drástica da taxa Selic, o pagamento dos juros da dívida pública tem um impacto qualitativamente menor no potencial de gastos do orçamento federal e das empresas estatais; com o crescimento acelerado dos empregos formais, a crise da Previdência brasileira pode ser administrada por um novo padrão de gestão.
Desdramatização
Hoje, cerca de 40% da dívida pública total, calculada em US$ 1,29 trilhão, é lastreada na taxa Selic: cada ponto a menos desta taxa equivale a uma economia anual de cerca de R$ 5 bilhões ! O PAC prevê que o pagamento de juros em relação ao PIB seja de 5,6% em 2007, 5,0% em 2008, 4,4% em 2009 e 3,4% em 2010. Durante os governos FHC, mais de 9 milhões de pessoas se aposentaram, mas o saldo líquido de empregos formais foi de apenas 796.967. Essa é a principal raiz da crise da Previdência: a erosão da base de contribuintes. Com o governo Lula, esse fundamento de raiz foi drasticamente melhorado, com a criação em média, nos primeiros quatro anos, de onze vezes mais empregos com carteira assinada. Tal dinâmica, como demonstra o primeiro semestre deste ano, que estabelece um novo recorde, deve ser ainda bem mais forte no segundo governo Lula.
De acordo com estudo da economista Ana Cláudia Além, assessora do BNDES, o Brasil pode chegar a um déficit nominal zero já em 2008 ! O déficit nominal zero mede todas as receitas, todas as despesas e mais o pagamento de juros. A dívida pública, que atingiu 52,4% em 2003, tenderia a ficar próxima de 30% do PIB em 2010!
Isso significa uma importante desdramatização do esforço fiscal, a geração de superávit primário, nos próximos anos. De acordo com o jornal Folha de S.Paulo de 21 de maio, o superávit primário sobre a receita já deverá cair de 12,5% em 2004 para 7% em 2007, abrindo uma folga de R$ 30 bilhões no orçamento. E com o maior dinamismo da economia, os dados sobre a arrecadação da União estão seguramente subestimados: eles tendem a crescer de forma contínua nos próximos anos.
A nova disponibilidade orçamentária do governo federal deve ser somada à força das estatais (em particular a Petrobras), dos bancos públicos federais e de um dos maiores bancos de fomentos do mundo, o BNDES. Este tinha em 2003 cerca de R$ 28 bilhões para emprestar. Este ano, prevê-se um montante de empréstimos da ordem de R$ 60 bilhões (o volume de empréstimos cresceu 40% no primeiro semestre, indicando com segurança um novo ciclo de investimentos). A Petrobras aumentou seus efetivos de 34,5 mil para 49,9 mil trabalhadores de 2003 a 2007, e suas subsidiárias praticamente dobraram o número de empregados.
Enfim, essa é a segunda marca do novo ciclo: o Estado brasileiro recuperou, depois de décadas, parte de sua capacidade estratégica de investir maciçamente e expandir gastos sociais. O Plano de Aceleração do Crescimento é exatamente a expressão disso: prevê o investimento de R$ 503,9 bilhões, dos quais cerca de 85% vêm das estatais federais e demais entes federados.
A terceira característica decisiva desse novo ciclo econômico, realizado sob regime de democracia, é o seu potencial distributivo. Para isso convergem o aumento real do salário mínimo, o controle da inflação e, em particular, o do custo da cesta básica, que têm profundo impacto sobre as classes populares, o crescimento exponencial dos empregos e a conseqüente melhoria no padrão dos acordos salariais, as políticas distributivas de sentido universalista do Ministério do Desenvolvimento Social, as fortes políticas de inclusão do Ministério da Educação, o incentivo quadruplicado de crédito e assistência técnica à agricultura familiar, a expansão dos circuitos da economia solidária que hoje já abarcam 1,5 milhão de postos de trabalho, as políticas afirmativas voltadas para os negros e as mulheres. O fato de o PAC ter incorporado de forma decisiva investimentos em “infra-estrutura social”, com a previsão de investimentos de R$ 170 bilhões nos próximos anos, para saneamento, urbanização de favelas e construção de habitações, faz parte dessa dinâmica de direcionar o crescimento para o alargamento popular do mercado interno.
É evidente que este potencial distributivo do novo ciclo econômico depende, fundamentalmente, das lutas políticas e sociais dos trabalhadores e do povo brasileiro. E seria insensato pensar o contrário. Qual será a expansão do salário mínimo real e em que medida serão ampliadas as políticas sociais? Será realizada alguma reforma tributária de cunho redistributivo? Em que medida avançarão os direitos do trabalho? As reformas urbana e agrária ganharão centralidade? Nenhuma das respostas a essas perguntas pode ser formulada de antemão.
Mais que tudo, será fundamental o planejamento democrático desse novo ciclo, o que exige um esforço profundo de republicanização e democratização das estruturas de decisão e gestão do Estado brasileiro. A definição dos setores sociais prioritariamente beneficiários do crescimento, a adoção de lógicas econômicas intensamente distributivistas em oposição às dinâmicas concentradoras de mercado, a direção e a regulação desse novo ciclo em sua dimensão ecológica, o amadurecimento de sistemas nacionais de inovação em áreas estratégicas dependem desse planejamento democrático.
Mas é evidente que a distribuição de renda, já iniciada no primeiro governo, tem todo o potencial de ser aprofundada nos próximos anos em uma dinâmica política ofensiva de conjunto. Essa nova economia política seria, enfim, a base social de um período de instauração de uma dinâmica de revolução democrática no país. A maior conquista dessa revolução democrática seria exatamente, a médio prazo, tornar a pobreza crônica uma peça de museu na história do Brasil.
No interessante ensaio “Reformas, que reformas?”, publicado no dia 20 de julho no jornal Valor Econômico, o economista neoliberal Armando Castelar Pinheiro afirma: “O debate sobre as reformas está sumindo do noticiário. Uma busca na página do Valor retorna 477 menções à palavra ‘reformas’ no primeiro semestre de 2007, contra 1.607 quatro anos antes. Será porque o Brasil não precisa de reformas?” O desespero do economista está em identificar a perda de centralidade do paradigma neoliberal no jornal que foi exatamente concebido para ser uma das matrizes principais de sua permanente propaganda.
O reconhecimento desse novo ciclo econômico deveria honrar a memória, os sonhos, a obstinação e a presença da tradição nacional-desenvolvimentista do país. Chamado de “sociodesenvolvimentista”, pelo ministro Guido Mantega, este novo ciclo bem mereceria ter o nome de ciclo Celso Furtado-Maria da Conceição Tavares, como modo de traduzir a vitória desses dois grandes intelectuais brasileiros sobre os modos de pensamento neoliberal e em favor dos direitos inalienáveis do povo brasileiro.

*Juarez Guimarães é cientista político, professor na UFMG