segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Vocação Missionária

Realizamos no início de janeiro,  um bate papo sobre vocação missionária além fronteiras com a leiga missionária comboniana Guilherma Vicenti, que retornou ao Brasil, mais precisamente para Curitiba, Paróquia de Santa Amélia,  depois de 3 anos de Missão em Moçambique.  Foi uma conversa boa, com uma mulher forte, dinâmica que deseja continuar vivendo o chamado de Deus em sua vida.





INFORMATIVO LMC: Quanto tempo você ficou no Moçambique?

Retornei ao Brasil no dia 30 de novembro de 2010 depois de 3 anos de presença em Maputo – Moçambique. Cheguei na Comunidade Eclesial da Bakita em janeiro de 2008 e dediquei-me com muito empenho ao trabalho da promoção da mulher, ensino da costura como profissionalização e geração de renda. Foi uma linda e também nova experiência, pois antes estive por 3 anos em Nipepe ao norte de Moçambique, tendo vivido realidades e experiências muito diferentes.

INF: Onde você morou nestes 3 últimos anos?

Em Maputo, que fica ao sul de Moçambique, moramos na periferia. Minha presença esteve diretamente ligada a comunidade da Bakita. Não sai deste espaço, fiquei envolvida com o dizimo, a liturgia, as aulas de corte e costura, a horta e nossos pequenos vizinhos de porta: as crianças da creche que fica ao lado de nossa casa.
Fiz comunidade de vida com a Vânia, leiga comboniana de Portugal e agora neste ano com a Vanessa, brasileira.

INF: Como foi sua vida lá?

Procurei dar testemunho com minha vida, sem muitos discursos. Passei a maior parte do meu tempo na sala de costura que fica ao lado de nossa casa. Trabalhei com várias turmas de manhã, tarde e noite. Apresentei noções básicas de corte, costura, ética profissional; me aperfeiçoei em relações humanas, fui catequista, confidente,... fiz muitos amigos, tendo com certeza passado umas 150 pessoas pela nossa salinha: mamas, homens e jovens.



Inf: Agora com seu retorno qual sua avaliação?

Foi muito pouco tempo para esperar grandes resultados. Mas o pouco feito com certeza fez a diferença para muitas pessoas. Alguns conseguiram emprego, 2 mulheres até na África do Sul, como costureiras. Outros gerando renda na própria casa, costurando uniformes, roupas, realizando consertos. Sem falar na comunidade de fé, que foi uma troca bonita. Foram 3 anos de dedicação sem muito alvoroço, tentando viver o que Comboni nos pediu: “ser pedra escondida” no meio do povo, porque ser missionária para mim foi assumir o dia a dia, a rotina da vida, que por ser batizada e acreditar na Boa Nova de Jesus Cristo chamamos de missão... Engana-se quem parte para missão e espera somente a novidade, o diferente. O encontro com o Deus da Vida através do irmão se dá na maior parte do tempo na dureza da rotina diária.

INF: Neste tempo que mudanças você percebeu?



Vi pequenas transformações acontecerem ao nosso redor. Algo que eu acho significativo, pois era meu “desestress” foi a horta. Atrás da nossa casa era onde se despejava o lixo da creche. Com muito empenho e paciência transformamos numa horta, passamos a enterrar o lixo orgânico para enriquecer a terra e pudemos comer muita couve, rúcula, mamão, tomate, amendoim, colhidos ali mesmo.

INF: Qual foi sua proposta de atuação junto ao pessoal?

Meu jeito de trabalhar nunca se limitou a ensinar a cortar e costurar. Dentro destas horas que passávamos juntos procurei falar de economia, organização; evangelizava por meio de musica, principalmente as do padre Zezinho, falando da vida, do casamento,... Depois de quase um mês de ambientação do grupo (que vinham de várias paróquias da região) nos tornávamos uma família. Uma senhora que não tinha condição de pagar a chapa, (a condução) andava quase 2 horas para chegar no curso e revelou-se uma das melhores alunas.

INF: Que sementes você procurou plantar?

A sensação de vitoria e a realização de cada um estampada no rosto ao terminar a sua roupa foi muito gratificante. Busquei sempre saber qual era o sonho dos alunos. Sempre diziam que queriam fazer o vestido de noiva, mas fazer a base foi um grande desafio. Eu procurei deixar uma boa base para a realização deste sonho. Aprender a costurar, a cortar, a necessária organização, o compromisso, a fazer bem feito, sem desperdício, com aproveitamento do tecido e criatividade. Descobrir seu potencial.

INF: Quais os maiores desafios enfrentados?

Para os alunos o grande desafio inicial acaba sendo a matemática, as medidas, as horas de prática necessárias na máquina. Fizemos muita costura e manuseio com os retalhos.

Para nós o grande desafio é a continuidade do projeto. Desde o primeiro grupo busquei pessoas para formar como costureiras: “Salvar a África com a própria África”, mas o processo é longo. Agora termino este tempo consciente de que é preciso ainda continuar acompanhando o trabalho.

INF: Como foi completar suas 70 primaveras em Missão?

Completei meus 70 anos na missão! Quando fiz 68 anos eles disseram que eu iria completar os 70 anos lá. Achava que não, pois eram previstos só 2 anos, mas Deus me deu a graça de continuar e completar 3 anos de presença missionária.

Hoje estou no Brasil para fazer férias, rever a família, tratar a saúde, porém tenho colocado minha vida nas mãos de Deus, pois se for de Sua Vontade tenho disposição e desejo de retornar!