sexta-feira, 18 de maio de 2012

Maioridade aos Leigos e Leigas

Ao celebrarmos os 50 anos do Concílio Vaticano II, muito deve ser aprofundado e divulgado. Assim propomos a leitura deste artigo do professor português Jose Dias da Silva que fala do importante papel dos leigos e leigas na Igreja. Belo resgate histórico e no modo de ser Igreja.


Já lá vão 50 anos
Por: JOSÉ DIAS DA SILVA, Investigador universitário



O concílio trouxe a maioridade aos leigos. Fez deles co-responsáveis pela missão da Igreja.

Não sei se o leitor se lembra que daqui a meio ano se celebra o cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II. Não sei se «isto» lhe diz alguma coisa, mas pode fazer um pequeno teste: quantos documentos foram aprovados no concílio? De quantos conhece o nome e o tema? Quantos leu? O que mudou na sua vida?
Para os mais novos, é possível que se trate de um acontecimento perdido lá longe nos meandros da História, como a Batalha de Aljubarrota ou a proclamação da República. Para os menos jovens, há alguns que recordarão com saudade esses tempos e a esperança com que acompanharam as notícias de um acontecimento que se propunha revolucionar a mentalidade dos cristãos sobre a Igreja. Outros culpá-lo-ão pelo descalabro da perda de vocações e do crescente abandono dos fiéis. Poucos o tomaram a sério, como Carta Magna da Igreja.
O concílio trouxe, pelo menos teoricamente, a maioridade aos leigos. Fez deles co-responsáveis pela missão da Igreja: não só na sua execução, mas também na sua planificação, programação e avaliação. Porque «a vocação cristã é por sua própria natureza vocação ao apostolado» (AA 2). Porque «o dever e o direito do apostolado advém aos leigos da sua própria união com Cristo-cabeça. Com efeito, inseridos pelo baptismo no corpo místico de Cristo e robustecidos pela confirmação com a força do Espírito Santo, é pelo próprio Senhor que são destinados ao apostolado» (AA 3). Somos todos missionários não por mandato do papa, do bispo ou do pároco, mas do próprio Senhor Jesus Cristo. Portanto, com o concílio, o sacramento fundamental deixou de ser o da Ordem que dava entrada na hierarquia, nos órgãos de poder da Igreja, que, por isso, se confundia com o clero, os «sagrados pastores», enquanto nós, os leigos, não passávamos de ser o rebanho de Deus. Agora o mais importante é o Baptismo pelo qual passamos a fazer parte integrante da Igreja, nos tornamos Povo de Deus: «Por leigos entendem-se todos os cristãos [...] que incorporados em Cristo pelo baptismo, constituídos Povo de Deus e tornados participantes, a seu modo, da função sacerdotal, profética e real de Cristo, exercem pela parte que lhes toca, a missão de todo o povo cristão na Igreja e no mundo» (LG 31). E este documento sobre a Igreja explicita muitas coisas de que vou destacar três.
1) Os leigos, «por vocação própria» e porque «vivem no mundo, isto é, em toda e qualquer ocupação e actividade terrena, e nas condições ordinárias da vida familiar e social, com as quais é como que tecida a sua existência, são chamados por Deus para que, aí, exercendo o seu próprio ofício, guiados pelo espírito evangélico, concorram para a santificação do mundo a partir de dentro, como o fermento, e deste modo manifestem Cristo aos outros, antes de mais pelo testemunho da própria vida, pela irradiação da sua fé, esperança e caridade»;
2) «Os leigos são especialmente chamados a tornarem a Igreja presente e activa naqueles locais e circunstâncias em que só por meio deles ela pode ser o sal da terra» (LG 33);
3) «Os sagrados pastores devem reconhecer e fomentar a dignidade e responsabilidade dos leigos; recorram espontaneamente ao seu conselho prudente, entreguem-lhes confiadamente cargos e dêem-lhes margem e liberdade de acção, animando-os até tomarem a iniciativa. Considerem atentamente e com amor paterno, em Cristo, as suas iniciativas, pedidos e desejos. E reconheçam a justa liberdade que lhes compete na cidade terrestre» (LG 37).
O espaço é curto e a mensagem muito longa. Mas parece que os responsáveis máximos da Igreja esqueceram as suas decisões ao proporem, perante «estas e outras falhas», a necessidade de uma «aceitação do Concílio em quatro passos: um conhecimento mais amplo e profundo; a sua assimilação interior; a sua reafirmação amorosa; e a sua actuação» (Sínodo de 1985).
Sinais -Maio de 2012


Fonte: Site Além Mar - Missionários Combonianos Portugal

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