Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio. (Jo 20, 21)
A arquidiocese de Palmas, no Tocantins, acolhe o
3º
Congresso Missionário Nacional. escrito por Pedro Facci * e Jaime C. Patias **
A Igreja no Brasil
prepara o seu 3º Congresso Missionário Nacional (3º CMN), que acontece entre os
dias 12 e 15 de julho em Palmas, TO, uma iniciativa das Pontifícias Obras
Missionárias (POM), Conselho Missionário Nacional, Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB) e Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB). Em pauta
estarão temas como a missão diante de um mundo secularizado; a relevância do
Vaticano II e o compromisso com a missão aqui e além-fronteiras. O Congresso de
Palmas reunirá cerca de 600 pessoas representantes dos Regionais e organismos
missionários, e servirá como preparação do Brasil para o 4º Congresso
Missionário Americano - CAM 4 - Comla 9, marcado para 2013, em Maracaibo, na
Venezuela.
Entrevistamos o presidente de honra do
Congresso, dom Pedro Brito Guimarães, arcebispo de Palmas, presidente da
Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da
CNBB.
Dom Pedro, o que significa celebrar um
Congresso Missionário Nacional na arquidiocese de Palmas?
É difícil falar em missão e não me emocionar,
melhor dizendo, sem me apaixonar. A missão é o maior encantamento do meu
ministério episcopal. É a pupila dos meus olhos e a alegria do meu coração. Com
esta paixão pela missão, é difícil não admitir que sediar o 3º Congresso
Missionário Nacional seja um privilégio para poucas dioceses. O Brasil não tem
muita tradição em Congressos Missionários, haja vista ser este apenas o
terceiro. E quando uma diocese é escolhida para sediar um Congresso Missionário
entre as 274 existentes, é um privilégio e uma bênção. Este Congresso é uma
chuva de bênçãos para Palmas e para o Tocantins. Se este acontecesse em outra
diocese, eu ficaria meio enciumado, no bom sentido, é claro. A partir dele,
Palmas pode se olhar e se pensar na ótica da missão. Então, significa muito,
muito mesmo, ou melhor, tudo, tudo de bom.
O senhor estava presente no 2º Congresso
em Aparecida (2008). Quais os avanços da Igreja do Brasil na
missão?
Parafraseando o que já se disse sobre as CEBs,
"a missão é um novo jeito de ser Igreja". Estive presente no 2º Congresso
Missionário Nacional, em Aparecida, e também no 3º Congresso Americano (CAM 3 -
Comla 8), em Quito, no Equador, na condição de membro da Comissão Missionária.
Para mim foram dois momentos de graça. De lá para cá, muitas coisas mudaram nos
cenários do mundo e da missão. O mundo mudou e muda constante e velozmente. Num
só dia é capaz de acontecer coisas que, no passado, só aconteciam no arco de um
mês, de um ano ou de um século. Isto vale também para a missão. A vigilância e o
avanço missionários são missões de cada dia. Por isto, está mais do que na hora
de uma nova parada para abastecer a máquina, arrumar a mochila e reprogramar o
roteiro de viagem. Sobre os avanços, penso igual ao que pensava o compositor e
cantor Belchior: "minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que
fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais". Ainda sofremos de
uma doença pouco diagnosticada: a anemia missionária. Mas, de verdade,
avançamos, sim, e muito, talvez não na proporção e na velocidade que deveríamos
avançar. Para mim o maior avanço está no crescimento da consciência e da cultura
missionárias: as formações, as Semanas Missionárias, as Santas Missões
Populares, os congressos, os vários cursos e encontros. Também a descoberta da
vida como missão é mais um sinal deste avanço: deixamos de ver a missão como
algo simplesmente religioso-teológico para entendê-la como algo
antropológico.
No entanto, o maior
destaque atribuo às Diretrizes da Ação Evangelizadora 2011 a 2015, nas quais a
"Igreja em estado permanente de missão" se tornou uma urgência pastoral. Além de
ser urgência, ainda vem em primeiro lugar. Urgências são agendas, tarefas,
compromissos e orientações de como a Igreja deve ser, viver e evangelizar em
nossos dias, cheia de um amor vivo a Jesus e à sua Palavra, de ardor, de
entusiasmo e de vontade de ir ao encontro das pessoas. Tomara que a missão não
deixe de ser urgência, enquanto não passar a ser prática cotidiana. Ainda temos
que avançar muito.
Como estão os preparativos em Palmas e
quais são as expectativas para o novo Congresso?
Os meus desejos missionários são sempre maiores
do que as possibilidades de vê-los realizados, assim como era o desejo de um
salmista. Neste ponto, sou um sonhador e utópico. Palmas está se preparando para
ser a casa missionária do Brasil. A este respeito, já escrevi dois artigos:
"Palmas, Casa da Missão" e "Palmas, Casa da Missão do Brasil". No primeiro, eu
disse: "Palmas já está preparando os corações, limpando o terreno e fincando as
primeiras estacas para a construção desta Casa da Missão. Se o terreno for bem
preparado, o projeto bem feito e os operários competentes, Palmas se
transformará, em breve, em Casa da Missão, onde cada região e cada paróquia se
tornarão um cômodo desta Casa". No segundo, disse também: "Palmas se prepara
para acolher, de braços abertos e com um sorriso no canto da boca, todas as
expressões e as forças missionárias, provenientes de todos os rincões deste
imenso Brasil, para participar do 3º Congresso Missionário Nacional". Posso
dizer que o clima do Congresso já está invadindo os corações dos palmenses.
Nesta preparação, estamos aprendendo as seguintes lições: 1) acolher bem os
missionários e as missionárias; 2) ser uma Igreja missionária; 3) ser e viver a
missão; 4) ser uma Igreja missionária... Estamos nesta escola. Não sabemos se
vamos ser aprovados.
Como a temática do Congresso poderia ajudar as nossas comunidades a viver um novo impulso e ardor missionário além-fronteiras?
Missão é páscoa, é partida, é saída, é passagem,
é êxodo, é diáspora, é diástole. Missão é o envio para a vida, para a
humanidade. Todos os caminhos da missão já foram percorridos por Jesus,
missionário do Pai. Por Ele o Mar Vermelho já foi atravessado, a pé enxuto. O
seu Reino não tem fronteiras. Missão que é missão ultrapassa quaisquer
fronteiras para atingir o coração da humanidade. Missão com fronteiras não é
missão. A fronteira da missão é a dor do irmão. Por isto as outras fronteiras,
mais do que geográficas, são imaginárias e transponíveis. Estas fronteiras são
os condicionantes, os reducionismos, as justificativas. Já se disse que missão
não é simplesmente partir. Há quem parte e não chega missionariamente a lugar
nenhum. Ficar no mesmo lugar, fiel a Jesus Cristo e ao povo de Deus, também é
missão. Cada vez me convenço mais de que a fronteira da missão é o amor. Missão
é um caso de amor verdadeiro. Dar amor é dar a vida; dar a vida é dar amor; e
dar amor e dar a vida é dar missão. Ninguém tem maior missão do que aquele que
dá a vida por seu irmão.
O discipulado é para a missão. Como
vivê-la numa dimensão cada vez mais universal?
Preciso concluir. Busquei na memória, procurei
no recôndito do meu coração palavras para responder a esta pergunta. Creio que
não existem palavras mais adequadas para respondê-la do que as palavras finais
do Documento de Aparecida: "Recobremos, portanto, o ‘fervor espiritual'.
Conservemos a doce e confortadora alegria de evangelizar, inclusive quando é
necessário semear entre lágrimas. Façamo-lo, como João Batista, como Pedro e
Paulo, como os demais Apóstolos, como essa multidão de admiráveis
evangelizadores que se sucederam ao longo da história da Igreja. Façamos tudo
isso com ímpeto interior que ninguém e nada seja capaz de extinguir. Seja essa a
maior alegria de nossas vidas dedicadas. E oxalá o mundo atual - que procura
(por Jesus Cristo) às vezes com angústia, às vezes com esperança - possa assim
receber a Boa Nova, não através de evangelizadores tristes e desalentados,
impacientes ou ansiosos, mas através de ministros do Evangelho, cuja vida
irradia o fervor de quem recebeu, antes de tudo em si mesmos, a alegria de
Cristo e aceitam consagrar sua vida à tarefa de anunciar o Reino de Deus e de
implantar a Igreja no mundo. Recuperemos o valor e a audácia apostólicos" (DA
552).
** Jaime C. Patias, imc, é diretor da revista Missões e assessor de imprensa do 3º CMN.
Fonte: www.pom.org.br/congresso / Mundo e Missão – Missões
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