sábado, 31 de julho de 2010

Pe Ezequiel Ramin



Tinha apenas 33 anos, estava no Brasil há pouco mais de um ano... Sempre me pergunto quão forte devia ser a raiva dele, para assinar tão cedo uma condenação à morte. Missionário Comboniano, Ezequiel Ramin foi morto em 1985, numa Rondônia em plena agitação pela febre colonizadora de fazendeiros e muitos pobres em busca de futuro.
Imensa fronteira em desenvolvimento, onde grupos poderosos disputavam cada palmo de chão. Fazendeiros contra posseiros, grileiros contra pequenos agricultores, fazendeiros e madeireiros contra índios. O missionário tomou o lado dos pobres e foi brutalmente executado. Hoje, a vinte cinco anos de seu martírio, seus companheiros combonianos escrevem uma carta aberta para ele.

Ezequiel, o que é ressurreição?
Diga-nos, mártir da luta: como acreditarmos na vida quando ainda continua tamanha violação dos direitos?

Lembramos de sua paixão pela causa dos povos indígenas. Pois é, ainda hoje mais de 50% das terras deles continuam sem identificação, demarcação ou homologação.
Você deu a vida pelo chão de seu povo, mas ainda hoje o Brasil é campeão mundial na concentração da terra. Imaginamos sua ansiedade a respeito do plebiscito de setembro 2010, para pôr um limite à propriedade, pois a terra é o bem mais essencial que temos.
Ainda ressoam suas palavras: “muitas vezes sinto uma grande vontade de chorar, ao ver os quilômetros de cerca...”
Ezequiel: como não chorar, hoje, enquanto está sendo aprovada a reforma ao Código Florestal? Em vez de preservar a natureza fonte de vida, isso vai matar as florestas e reduzir as áreas de preservação permanente!
A vida é cada vez mais ameaçada pela ilusão do crescimento e do progresso! Mas que progresso é este que suga das veias abertas da America Latina a madeira do mato, o ferro da terra e a fertilidade do chão?
Na sua Rondônia, o ano passado, quatro mil pessoas durante o intereclesial das CEBs ajoelharam-se, pedindo perdão frente às enormes barragens para usinas hidroelétricas no rio Madeira. Ainda dá, Ezequiel, para acreditar que Davi vencerá Golias?
Até sua irmã no sangue, Dorothy Stang , ainda não conheceu justiça e os assassinos dela estão impunes em liberdade... Cadê o estado, defensor de direitos?
Cadê a igreja da libertação pela qual você derramou seu sangue? Como e quando essa igreja reconhece e imita seus mártires?
Sumiram os mártires; hoje a medida da fé não parece mais ser a cruz da perseguição, mas o ibope de quem manipula os sentimentos do povo, oferecendo nas praças públicas a religião como um grande espetáculo...
Os próprios movimentos sociais, com que você tanto trabalhou, hoje em vários casos parecem presos a lógicas de controle e de repartição do poder.

No meio das contradições e falências, você costumava repetir que “trabalhar com os pobres é como criar primavera”. Acreditamos nessa primavera, padre!
Sentimos que a vida pulsa nas veias desse povo, apesar das ameaças que pairam em cima dele. Admiramos a cada dia a resistência e dedicação das mulheres líderes de comunidade: é delas que você deve ter aprendido!

Sua paixão não foi em vão: hoje os olhos do povo iluminam-se quando fazem memória de pe. Ezequiel e ir. Dorothy. Luzes distantes, mas permanentes, estrelas fixas no horizonte.
Sim, nossos povos ainda têm horizonte, apesar de tudo.
Alguns perderam o sonho, vêem-se obrigados a viver dia após dia. Mas outros, ao lado desses, ainda enxergam longe, lutam por mudança, acreditam na honestidade, doam-se até o fim. Você não imagina, Ezequiel, quanto é importante para eles seu exemplo e a vida de muitos outros batalhadores do dia de hoje!
Suas palavras fecundam a vida de muitos jovens: “Tenho a paixão de quem persegue um sonho. Essa palavra tem tamanha intensidade que, quando a acolho em meu ânimo, sinto que uma libertação sangra por dentro de mim”.
A igreja que você sonhava e pela qual trabalhou ainda está em construção: depende de nós dar-lhe um sabor de libertação.
Você comentava: “É um novo jeito de ser igreja. Avanço nessa lógica. As atividades são ligadas ao social, a uma transformação concreta. O papel principal é dos leigos. Eles são igreja. Interessam-se por tudo. O trabalho é de coesão: juntos buscamos saídas para os problemas interconectados da terra, dos índios, da saúde e do analfabetismo...”
“Meus olhos buscam com dificuldade a história de Deus aqui. A cruz é a solidariedade de Deus para com a caminhada e a dor humana. O amor de Deus é mais forte do que a morte. A vida é bela e estou feliz em doá-la!”
Ressurreição é isso, Ezequiel: doar-se com alegria para que esse povo viva! Você ainda vive, mártir da terra e do sonho de Deus. Que essa vida se transmita, apaixonada, nas muitas e muitos seguidores de Cristo que ainda seguem criando primavera!



“Quero dizer só uma coisa,
uma coisa especial para aqueles que
tem sensibilidade para as coisas bonitas.
Tenham um sonho.
Tenham um sonho bonito.
Procurem somente um sonho.
Um sonho para a vida toda.
Uma vida que sonha é alegre.
Uma vida que procura seu sonho
renova-se dia após dia.
Seja um sonho que procure alegrar
Não somente todas as pessoas,
mas também seus descendentes.
É bonito sonhar de tornar feliz
a humanidade toda.
Não é impossível...”

Padre Ezequiel Ramin,
missionário comboniano
MARTIR no BRASIL

por Pe Dário - carta aberta

sábado, 24 de julho de 2010

Missão Amazônica



Como já fora dito, desde final de abril deste ano, os LMC’s fazem parte da Família Comboniana juntamente com os Missionários Combonianos da Província Brasil-Sul e as Irmãs Missionárias Combonianas. Assumimos uma área missionária dentro da Diocese de Humaitá – AM cobrindo uma faixa de 300 km ao longo da BR 230, mais conhecida como Rodovia Transamazônica. Além das comunidades eclesiais de base espalhadas nas várias vicinais da BR-230, estamos iniciando uma caminhada juntamente com o povo ribeirinho do rio Aripuanã e os povos indígenas Tenharim, Parintintin e Djiahoi.
A realidade é gritante nesta Região Norte do país: na última década a renda per capta anual caiu de 4.957$ para 2.059$. O analfabetismo aumentou de 19% a 25%. A expectativa de vida caiu de 67 para 63 anos. * E é na Região Norte que mais se prevalece o trabalho escravo nestas fazendas que salpicam a Amazônia.
“A partir de 1960 -70, os massacres contra os povos indígenas voltaram a se repetir com as políticas de desenvolvimento e de integração da Amazônia. Estradas como a Transamazônica, a Belém-Brasília, BR-364, BR-174 e a Perimetral Norte rasgaram a floresta. Muitos povos foram duramente atingidos pelas epidemias e por expedições de extermínio com participação do poder público”. **
Os povos Tenharim e Parintintin, nos contam histórias de morte deste tempo de “progresso a qualquer custo”.
O desmatamento e os impactos de grandes projetos são as grandes preocupações atuais dos movimentos sociais, ambientalistas e de todo cristão comprometido.
“Somente entre agosto de 2007 e julho de 2008, a Amazônia perdeu quase 12 mil quilômetros quadrados de mata. “A expansão do desmatamento segue um padrão incontrolável. Sua destruição traz escassez de chuvas também para as regiões do centro sul do país com graves conseqüências para o abastecimento de água, produção de alimentos e geração de energia. Hoje, cada vez mais vozes apresentam outra evidência: é a falta de respeito ao meio-ambiente uma das principais causas de pobreza do mundo. A pior causa de degradação ambiental não é a pobreza, mas uma economia depredadora que explora os recursos naturais dos países pobres para manter a crescente e continuada demanda dos mais ricos. Muitos igarapés e nascentes estão desaparecendo por causa do desflorestamento. A destruição das florestas acelera os processos de desertização, ameaçando as reservas de água e coloca em perigo a vida de muitos povos indígenas e as futuras gerações”. **
Somente aqui na pequena vila de Santo Antonio do Matupi há aproximadamente 20 madeireiras e, na região, ao longo da Transamazônica, há inúmeras fazendas de extensões absurdas: de 8 mil, 10 mil hectares, em média. Algumas pertencentes à um único dono! Uma destas fazendas possui uma extensão de 45 km (em linha reta) só de pasto! É o latifúndio engolindo a floresta e ameaçando a agricultura familiar!
Muitos aqui são sulistas, ou seja, migrantes que vêm do sul do Brasil em busca de uma vida melhor. Mas a Amazônia, de maneira geral, não tem terras adequadas para a agricultura e nem mesmo para a criação de gado. Além do mais “a mentalidade que predomina entre os migrantes é agressiva com a natureza”.
Nossa missão, como Família Comboniana, é de levar informação, e conscientizar sobre o que acontece, na tentativa de mudar um comportamento prejudicial ao meio ambiente, com a vida dos povos originários destas terras e com o futuro das novas gerações.
Temos que fazer das palavras de Chico Mendes também as nossas palavras:
“Eu pensava no começo que estava lutando para salvar as seringueiras. Mais tarde pensei que era para salvar a Floresta Amazônica. Hoje eu sei que estou lutando para salvar a humanidade”.
Osmar Marçoli
Leigo Missionário Comboniano
Fontes:
*IBGE, Diário da Amazônia ,2000.
** livro: Amazônia, a igreja diante da devastação ambiental, editora Ave-Maria, 2007.

sábado, 10 de julho de 2010

Povos indígenas



10/7/2010

‘O projeto desenvolvimentista está sendo construído sobre os cadáveres dos indígenas’, afirma dom Erwin Kräutler

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) divulgou na tarde dessa sexta-feira oRelatório de Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil. Os dados apresentados são referentes às violações de direitos praticadas contra os indígenas em 2009. Dentre as principais violências apontadas pela publicação estão: danos ao patrimônio, assassinatos, ameaças de morte e mortes por desassistência à saúde.
As informações são do sítio do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), 09-07-2010. O objetivo do relatório é denunciar e chamar a atenção da opinião pública para a situação desumana em que vivem muitos indígenas no país. As 20 comunidades do povo Guarani Kaiowá, em Mato Grosso do Sul, que vivem acampadas à beira de rodovias, confirmam os dados apresentados pela publicação. Eles são ameaçados, torturados e atacados porque lutam pela garantia de seus direitos, como a posse da terra, dado que comprova o fato de que grande parte das violências estão relacionadas à conflitos fundiários. Para
dom Erwin Kräutler, presidente do Cimi e bispo da Prelazia do Xingu, o relatório deve chegar ás mãos dos agentes dos governos federal e estadual para que se coloque um basta na violência contra os indígenas. “O sangue derramado desse povo clama aos céus. O projeto desenvolvimentista do governo está sendo construído sobre os cadáveres dos indígenas. O que tem mais valor, as grandes obras ou a vida humana, a família?”, indaga Kräutler. Lucia Helena Rangel, que é professora da PUC/SP e coordenou a pesquisa, destaca que o mais importante da publicação não é chegar a uma conclusão de que a violência contra os indígenas tem aumentado ou diminuído ao longo dos anos. “Embora possamos falar de um aumento de casos de violências contra esses povos nos últimos dez anos, isso não é o mais significativo, pois os números destacados no relatório não podem ser trabalhados estatisticamente”, afirmou a coordenadora. Para Roberto Liebgott, vice-presidente do Cimi, o relatório vem mostrar "a omissão como opção política do governo federal em relação aos povos indígenas". Tal atitude implica em diferentes formas de violências, como a não demarcação de terras, falta de proteção das terras indígenas, descaso nas áreas de saúde e educação e a convivência com a execução de lideranças, ataques a acampamentos e outras agressões por agentes de segurança, ataques a indígenas em situação de isolamento, tortura por policiais federais, suicídios entre outras. O relatório foi produzido com base nos relatos dos missionários do Cimi e nas informações divulgadas pela imprensa. A publicação está dividida em quatro capítulos: violência contra o patrimônio; violência contra a pessoa praticada por particulares ou por agentes do poder público; violências provocadas por omissão do poder público; e violência contra os povos indígenas isolados ou de pouco contato. O Cimi ainda apresenta este ano uma tabela com o nome das terras indígenas sem providências. A publicação será enviada aos órgãos do poder público e entidades que trabalham em prol da garantia dos direitos humanos.


Fonte: IHU Unisinos

Educação no Brasil


Para refletir!!!!

NO FUTEBOL, O BRASIL FICOU ENTRE OS 8 MELHORES DO MUNDO E TODOS ESTÃO TRISTES. AGORA VAMOS PENSAR EM QUE LUGAR ESTAMOS NA EDUCAÇÃO?

Encontrei esta notícia que compartilho com vocês.

Realmente "alguma coisa está fora da ordem...." o bom mesmo é ir a fonte e conhecer o relatório sobre a Educação da Unesco -www.unesco.org/.../2010


Qualidade da educação no Brasil ainda é baixa, aponta Unesco

Relatório indica que índices de repetência e abandono da escola no País são os mais elevados da América Latina

19 de janeiro de 2010 15h 22
Eric Akita, do estadao.com.br

Elevados índices de repetência e de abandono da escola no Brasil foram apontados em relatório da Unesco SÃO PAULO - Com índices de repetência e abandono da escola entre os mais elevados da América Latina, a educação no Brasil ainda corre para alcançar patamares adequados para um País que demonstra tanto vigor em outras áreas, como a economia. Segundo o Relatório de Monitoramento de Educação para Todos de 2010, da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), a qualidade da educação no Brasil é baixa, principalmente no ensino básico. Veja o relatório da Unesco O relatório da Unesco aponta que, apesar da melhora apresentada entre 1999 e 2007, o índice de repetência no ensino fundamental brasileiro (18,7%) é o mais elevado na América Latina e fica expressivamente acima da média mundial (2,9%). O alto índice de abandono nos primeiros anos de educação também alimenta a fragilidade do sistema educacional do Brasil. Cerca de 13,8% dos brasileiros largam os estudos já no primeiro ano no ensino básico. Neste quesito, o País só fica à frente da Nicarágua (26,2%) na América Latina e, mais uma vez, bem acima da média mundial (2,2%). Na avaliação da Unesco, o Brasil poderia se encontrar em uma situação melhor se não fosse a baixa qualidade do seu ensino. Das quatro metas quantificáveis usadas pela organização, o País registra altos índices em três (atendimento universal, igualdade de gênero e analfabetismo), mas um indicador muito baixo no porcentual de crianças que ultrapassa o 5º ano. Problemas que a educação brasileira ainda enfrenta, a estrutura física precária das escolas e o número baixo de horas em sala de aula são apontados pelos técnicos da Unesco como fatores determinantes para a avaliação da qualidade do ensino. Crise financeira A crise financeira que ainda reprime o desenvolvimento de países em todo o mundo poderá também ter um reflexo bastante negativo na educação, alerta o relatório da Unesco. De acordo com a organização, o aumento da pobreza e os cortes nos orçamentos públicos das nações podem comprometer os progressos alcançados na educação na última década, principalmente nos países pobres. "Enquanto os países ricos já estão criando as condições necessárias para sua recuperação econômica, muitos nações pobres enfrentam a perspectiva imediata de uma degradação de seus sistemas educativos", alerta Irina Bokova, diretora-geral da Unesco. "Não podemos permitir o surgimento de uma "geração perdida" de crianças privadas da possibilidade de receber uma educação que lhes permita sair da pobreza." Com este cenário, a Unesco avalia que a comunidade internacional não deverá alcançar nenhum dos seis objetivos estabelecidos em 2000, em Dacar, no Senegal, que, juntos, visam a universalização do ensino fundamental até 2015. Segundo o relatório, seria necessário cobrir um déficit de US$ 16 bilhões para atingir essas metas, acabando com o analfabetismo, que hoje atinge cerca de 759 milhões de adulto no mundo, e possibilitando que as mais de 140 milhões de crianças e jovens que continuam fora da escola tenham a oportunidade de estudar.