Já lá vão 50 anos
Por: JOSÉ DIAS DA SILVA, Investigador universitário
O concílio trouxe a maioridade aos leigos. Fez deles co-responsáveis pela missão da Igreja.
Não
sei se o leitor se lembra que daqui a meio ano se celebra o
cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II. Não sei se «isto»
lhe diz alguma coisa, mas pode fazer um pequeno teste: quantos
documentos foram aprovados no concílio? De quantos conhece o nome e o
tema? Quantos leu? O que mudou na sua vida?
Para
os mais novos, é possível que se trate de um acontecimento perdido lá
longe nos meandros da História, como a Batalha de Aljubarrota ou a
proclamação da República. Para os menos jovens, há alguns que recordarão
com saudade esses tempos e a esperança com que acompanharam as notícias
de um acontecimento que se propunha revolucionar a mentalidade dos
cristãos sobre a Igreja. Outros culpá-lo-ão pelo descalabro da perda de
vocações e do crescente abandono dos fiéis. Poucos o tomaram a sério,
como Carta Magna da Igreja.
O
concílio trouxe, pelo menos teoricamente, a maioridade aos leigos. Fez
deles co-responsáveis pela missão da Igreja: não só na sua execução, mas
também na sua planificação, programação e avaliação. Porque «a vocação
cristã é por sua própria natureza vocação ao apostolado» (AA 2). Porque
«o dever e o direito do apostolado advém aos leigos da sua própria união
com Cristo-cabeça. Com efeito, inseridos pelo baptismo no corpo místico
de Cristo e robustecidos pela confirmação com a força do Espírito
Santo, é pelo próprio Senhor que são destinados ao apostolado» (AA 3).
Somos todos missionários não por mandato do papa, do bispo ou do pároco,
mas do próprio Senhor Jesus Cristo. Portanto, com o concílio, o
sacramento fundamental deixou de ser o da Ordem que dava entrada na
hierarquia, nos órgãos de poder da Igreja, que, por isso, se confundia
com o clero, os «sagrados pastores», enquanto nós, os leigos, não
passávamos de ser o rebanho de Deus. Agora o mais importante é o
Baptismo pelo qual passamos a fazer parte integrante da Igreja, nos
tornamos Povo de Deus: «Por leigos entendem-se todos os cristãos [...]
que incorporados em Cristo pelo baptismo, constituídos Povo de Deus e
tornados participantes, a seu modo, da função sacerdotal, profética e
real de Cristo, exercem pela parte que lhes toca, a missão de todo o
povo cristão na Igreja e no mundo» (LG 31). E este documento sobre a
Igreja explicita muitas coisas de que vou destacar três.
1)
Os leigos, «por vocação própria» e porque «vivem no mundo, isto é, em
toda e qualquer ocupação e actividade terrena, e nas condições
ordinárias da vida familiar e social, com as quais é como que tecida a
sua existência, são chamados por Deus para que, aí, exercendo o seu
próprio ofício, guiados pelo espírito evangélico, concorram para a
santificação do mundo a partir de dentro, como o fermento, e deste modo
manifestem Cristo aos outros, antes de mais pelo testemunho da própria
vida, pela irradiação da sua fé, esperança e caridade»;
2)
«Os leigos são especialmente chamados a tornarem a Igreja presente e
activa naqueles locais e circunstâncias em que só por meio deles ela
pode ser o sal da terra» (LG 33);
3)
«Os sagrados pastores devem reconhecer e fomentar a dignidade e
responsabilidade dos leigos; recorram espontaneamente ao seu conselho
prudente, entreguem-lhes confiadamente cargos e dêem-lhes margem e
liberdade de acção, animando-os até tomarem a iniciativa. Considerem
atentamente e com amor paterno, em Cristo, as suas iniciativas, pedidos e
desejos. E reconheçam a justa liberdade que lhes compete na cidade
terrestre» (LG 37).
O
espaço é curto e a mensagem muito longa. Mas parece que os responsáveis
máximos da Igreja esqueceram as suas decisões ao proporem, perante
«estas e outras falhas», a necessidade de uma «aceitação do Concílio em
quatro passos: um conhecimento mais amplo e profundo; a sua assimilação
interior; a sua reafirmação amorosa; e a sua actuação» (Sínodo de 1985).
Sinais -Maio de 2012Fonte: Site Além Mar - Missionários Combonianos Portugal
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