segunda-feira, 1 de junho de 2009

Espiritualidade bíblica – Pentecostes: o nascimento da Igreja


A criação da comunidade messiânica:
No dia de Pentecostes, o Espírito de Jesus encheu os corações dos seus discípulos e discípulas, quando estavam reunidos.
Nós, também, no batismo, nascemos para a vida no Espírito e cada dia renascemos continuamente para o projeto de Deus, procurando falar a linguagem do Espírito a todos os povos do mundo de hoje.
Segundo o evangelho de João, Jesus se manifesta aos seus amigos na tarde do domingo de Páscoa; esta referência à tarde de domingo reflete a práxis cristã de se reunir para celebrar a memória da morte e ressurreição de Jesus. Os discípulos, porém, estão de portas fechadas; são uma comunidade medrosa, pois ainda não possuem o Espírito Santo. O medo é como um freio que lhes bloqueia a tarefa de testemunhar o Cristo ressuscitado.
Doutro lado, as portas fechadas mostram o novo estado de vida do ressuscitado, para quem não há barreiras. Jesus se apresenta no meio da comunidade. De fato, ele é o centro e a razão de ser da comunidade. Logo saúda os discípulos: “A paz esteja com vocês”; e, depois destas palavras, mostrou-lhes as mãos e os pés”. As cicatrizes do Mestre indicam que o ressuscitado não pode ser anunciado apenas em seu aspecto glorioso; aquelas mãos e aqueles pés transpassados na cruz são a memória permanente das torturas sofridas.
A comunidade, fortificada pela presença do ressuscitado, está pronta para continuar a missão que ele recebeu: “Como o Pai me enviou, assim também eu envio vocês. Tendo falado isso, Jesus soprou sobre eles, dizendo: Recebam o Espírito santo”. O sopro de Jesus é a nova criação e remete ao que Deus fez quando criou o ser humano (Gn 2, 7). É o sopro da vida nova. Assim nasce a comunidade messiânica.
A comunidade continua a missão de Jesus
Jesus presente transforma totalmente a situação medrosa da comunidade dos apóstolos, capacitando-os a ser os anunciadores da sua vitória sobre os mecanismos de morte. Reunidas pelo Espírito de Jesus, as comunidades cristãs de hoje, com seus comportamentos e estilo de vida, provocam o julgamento de Deus sobre o mundo, anunciando a boa-nova do evangelho e denunciando todas as opressões que a destroem. Todavia, ninguém possui plenamente o Espírito, e ninguém está privado dele; só na união de todos, formando a comum-unidade, é que cresce o corpo de Cristo, o templo do Espírito Santo, a Igreja que somos.
Os cristãos têm a tarefa de continuar o projeto de Deus, manifestado na Paixão-Morte-Ressurreição de Jesus. Este projeto é sintetizado desta forma: “Os pecados daqueles que vocês perdoarem serão perdoados; os pecados daqueles que vocês não perdoarem não serão perdoados”. Seja claro que esta frase de Jesus não tem nada a ver com o sacramento da penitência, chamado impropriamente por muitos de “confissão”. O pecado é essencialmente comprometer-se com a ordem injusta que levou Jesus à morte na cruz.
Hoje em dia, também, há muitas ordens injustas que continuam matando gente. Ora, Jesus veio para que todos tenham vida e vida em abundância. Mas este projeto recebeu e continua recebendo forte oposição dos que querem a vida só para si mesmos. Aí está a raiz do pecado, de acordo com o evangelho de João. Portanto, os pecados são atos concretos decorrentes dessa opção fundamental contra a vida das pessoas e contra a liberdade delas.
Diante disso, Jesus nos dá o poder de perdoar ou não perdoar. A comunidade cristã cumpre esta função, mostrando onde está a vida e onde se aninha a morte; promovendo a vida e quebrando os mecanismos que procuram destruí-la; conscientizando as pessoas e desmascarando os interesses ocultos dos poderosos.
O que significa, hoje em dia, não perdoar os pecados dos latifundiários, dos corruptos, dos políticos que utilizam o poder e o dinheiro e a terra para defender somente seus interesses?Tarefa difícil das comunidades cristãs, não sempre fiéis a essa maneira de evangelizar.
Não se trata de julgar as pessoas; mas de constatar e confirmar o juízo que o homem faz de si próprio diante do projeto de vida, manifestado por Jesus.
(“Vida Pastoral”- n. 266 – Maio-Junho de 2009 – pag. 50-51)
Pe Valentino Benigna

Nenhum comentário:

Postar um comentário